domingo, 25 de outubro de 2009

HARVEY MILK: UM SÍMBOLO DE LUTA E DE LIBERDADE

Por Thonny Hawany

Harvey Milk, ativista norte americano, na década de 1970, nascido em Nova York e radicado em São Francisco, no Castro, foi o primeiro homossexual a militar em favor das causas LGBTs num misto de ativismo político com certa dosagem de irreverência própria da semântica da palavra gay (alegre). Milk e seu discurso efetivado em ações não foram importantes só para a história dos EUA, mas para a história do ativismo gay no mundo. A partir de Milk, as lutas em favor de dias melhores para gays, lésbicas, bissexuais, transexuais e outras minorias ganharam um tom sócio-político mais forte, afiado e contundente.
Conhecer Harvey Milk e sua história de vida é uma exigência a todos os que militam em favor das causas LGBTs. O ativismo de seu tempo, possivelmente, influenciado por ele e pelos gays, lésbicas, bissexuais e transexuais que compunham sua equipe de militância, deu origem a diversos símbolos e procedimentos usados nos movimentos contemporâneos, a exemplo das marchas, das paradas, da reinbow flag (bandeira arco-íris) e da música I Will Survive como grito de liberdade daqueles que precisavam e que ainda hoje precisam assumir sua homossexualidade para a família, para os amigos, em fim “sair do armário” para a ciência e consequente aceitação (ou não) de todos.
Negar o que somos é, antes de tudo, desrespeitar, além dos nossos direitos, os direitos do outro, é, acima de tudo, trair o princípio da alteridade manifesto no pressuposto da interdependência e inter-relação entre os indivíduos vivendo em sociedade. Para Milk, se todos os gays, lésbicas, bissexuais e transexuais assumíssemos e lutássemos em favor da causa LGBT, todos ganharíamos por ter nossos direitos civis garantidos pelo Estado. Segundo ele, seria importante que os membros da sociedade conhecessem pelo menos um de nós; se assim o fosse, eles respeitariam a todos por extensão do respeito nutrido a “um dos seus”: um filho(a), um irmão(ã), um pai, uma mãe, um patrão, ou seja: um ente gay na mais ampla acepção da palavra. Pensando e agindo assim, Milk conseguiu arregimentar muitos simpatizantes heterossexuais que passaram a trabalhar em prol da defesa dos interesses LGBTs em sua época.
Por acreditar que, somente se envolvendo na política, poderia contribuir com a consecução de leis para garantir os direitos daqueles que comungavam com ele da mesma orientação sexual, Harvey Milk tornou-se político e, depois de três tentativas, conseguiu ser eleito ao cargo de Supervisor em São Francisco, o equivalente ao de Vereador aqui no Brasil, numa época em que a América se sentia orgulhosa por ser branca, religiosa-cristã, heterossexual e, extremamente, preconceituosa. Pouco tempo depois, Harvey Milk e o prefeito George Moscone foram assassinados por Dan White também Supervisor da cidade, o qual havia renunciado o cargo, mas, arrependido, desejava tê-lo de volta.
Baseando-se nos últimos dez anos da vida de Harvey Bernard Milk, o cineasta Gus Van Sant, com Sean Penn no papel principal, dirigiu o filme Milk: a voz da igualdade, indicado para o Oscar em 8 categorias (2008). No filme, sem a mínima pretensão de fazer uma crítica de cinema, é possível tirar excelentes lições de militância sócio-política em favor dos interesses LGBTs, sem, no entanto, descaracterizar o conjunto artístico da obra. Neste sentido, sem querer fazer um trocadilho e já o fazendo, não saberia dizer se Milk, o filme, como arte, imitou a vida, ou se a vida de Milk foi uma arte imitada pela própria arte no filme. Milk é uma história envolvente com cenas homossexuais que não chegam a chocar o público pela sutileza das cenas, com exceção de uns “beijos machos mais calientes”.
Em síntese, quero deixar a minha indicação sincera do filme aos irmãos e irmãs homossexuais militantes (ou não) e principalmente àqueles meus amigos e amigas heterossexuais para que engajem na luta pela convivência e pela tolerância ao outro da forma como o outro é por dentro e por fora. Milk é mais que um filme, é um signo que veio para despertar em nós um desejo por dias melhores, daí a necessidade da luta incansável pela consecução de leis que nos permita ter nossas próprias famílias, garantindo-nos os nossos direitos civis e, acima de tudo, a criminalização daqueles que, por homofobia, são-nos intolerantes ao ponto de darem a muitos de nós o fim trágico protagonizado por Sean Pen em Milk: a voz da LIBERDADE.

Referências:
MILK – A Voz da Igualdade/Milk, De Gus Van Sant, EUA, 2008. Com Sean Penn, Emile Hirsch, Josh Brolin, James Franco, Diego Luna, Alison Pill. Roteiro Dustin Lance Black. Fotografia Harris Savides. Música Danny Elfman. Produção Focus Features. Estreou em São Paulo 20/2/2009. Cor, 128 min

OBSERVAÇÃO: As imagens postadas nesta matéria pertecem ao arquivo de imagens do Google Imagens e os direitos autorais ficam reservados na sua totalidade ao autor originário caso o tenha.



2 comentários:

  1. Thonny o filme "Milk a voz da igualdade" narra a história de luta de Harvey Milk, o qual sua vida mudou a história, e sua coragem mudou vidas. Quando lhe recomendei a assistir este filme é porque acredito que ele tem uma capacidade muito grande de fazer mudar a vida de todos nós na luta pelos nossos direitos, como também mudar a vida dos companheiros lgbt's que ainda se escondem dentro de um armário. E como diz o decano LGBT Luiz Mott "quem continuar dentro da gaveta em pleno século XXI vai morrer sufocado e quem não levanta a bandeira, carrega a cruz". O filme desperta o guerreiro que estar dentro de todos nós para irmos a luta pelos nossos direitos. Seu texto estar muito bom, quiça que muitos de nossos companheiros leiam e se interessem para assistir o filme e que suas vidas sejam mudadas da inércia para luta! Beijãoooo

    ResponderExcluir
  2. "Milk" instaura, no cinema, a esquerda mais forte e intensa na luta pelos direitos humanos e das minorias; Hollywood representa um pouco do pensamento da elite e, quando ela passa a cultuar um pensamento caucado sobre o signo da alteridade, percebemos que a educação e os valores realmente estão fazendo efeito. (claro que com muita luta)

    ResponderExcluir