sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

A ÚLTIMA GUERRA: UM TRIBUTO AO DEUS EGO!

Por Thonny Hawany

O HOMEM, ao competir entre si e com o meio, modifica, sem pudor, a natureza, destrói o TUDO em nome do "NADA". E nessa competição desatinada, chamada por ele mesmo de natural, constrói sobre os alicerces da discórdia e da desigualdade um FIM para o qual seguirá, a contragosto, como passageiro de uma carruagem embalada em si bemol menor cujo condutor será o próprio Chopin.
Lentamente, a humanidade arquiteta o seu grand final, uma espécie de holocausto, um tributo a EGO – deus único e poderoso – em nome do qual se mata, segrega, usurpa, bane, corrompe e se deixa corromper.
O crescimento violento e confuso, aliado ao descontrole do ser e do parecer, conduz a humanidade ao globo da morte num giro insólito misturado às notas de Beethoven e às pinceladas de Salvador Dali em tela: “a morte segue o seu curso”.
Sob o bafejo do futuro que bramará em fúria, ogivas nucleares cruzarão os ares, imperiosas, beijarão o solo e interromperão com seu ósculo febril a ceia autofágica dos bilacs que teimam, limam, sofrem e suam.
Revoarão os anjos e quando soarem as trombetas emudecidas, o sol tornar-se-á pálido e ardente, não aquecerá, queimará em brasas vivas. Ao homem esquelético e cancerígeno sobrará a travessia nas negras águas do Aqueronte como passageiro no barco de Caronte numa obra dantesca, nem tão divina, nem tão comédia.
As ações degeneradas e travestidas de besta apocalíptica passarão e devastarão tudo como o maior dos tremores não registrado pela escala Richter. A humanidade tombará consumida por sua obra prima e se misturará aos outros animais em cadáveres. Em pinceladas surrealistas, fauna e flora se juntarão, na mesma tela, compondo um todo orgânico vomitado da inconsciente ironia de Dali e da utopia ilógica de Miró. Aleluia! Dirão, em coro, duas mil e doze vezes os maias.
O sangue transpirado dos corpos defuntos misturar-se-á ao pó. Os cabelos caídos como folhas secas entrelaçar-se-ão à lama fétida. Olhos arregalados, rubros e temerosos, sem choro, sem lágrimas, sem vida, sem NADA. Silêncio! Pés descalços, corpus nus arrasados pelo poder do nêutron misturar-se-ão como peças de um quebra-cabeça embaralhadas e perdidas num quadro de Picasso: Guernica.
Nem sequer vivem os abutres e os chacais para desbastarem o montante carniçal. Estarão mortos diante do mais farto banquete e, como o rei castigado no Tártaro por servir carne humana aos deuses, jamais poderão degustá-lo. Insetos dos mais resistentes choverão por terra como meteoritos no além do espaço celestial. Mesclar-se-ão homens, abutres e chacais no mesmo leito da cissiparidade: célula por célula.
Não haverá cercas, donos, latifúndios, GULA. Não haverá edifícios, mansões, castelos, barracos, INVEJA. Não haverá ricos, pobres, LUXÚRIA. Não haverá brancos, negros, amarelos, pardos, IRA. Não haverá católicos, mulçumanos, protestantes, espíritas, incrédulos, ateus, SOBERBA. Não haverá homens, mulheres, velhos, crianças, MELANCOLIA. Não haverá labor, descanso, PREGUIÇA. Não haverá HOMEM para se curvar diante do império da microbioespécie.

OBSERVAÇÃO: As imagens postadas nesta matéria pertecem ao arquivo de imagens do Google Imagens e os direitos autorais ficam reservados na sua totalidade ao autor originário caso o tenha.


9 comentários:

  1. Vejo que o filme "2012" o levou as mais profundas reflexões, que o fez produzir este texto tão rico. Deste filme ví apenas o trailer, que é deveras perturbador. Não creio que o planeta sucumbirá em tal data, prostado diante de tamanha hecatombe. Mas as imagens são fortes, arrebatadoras. Outras datas antes dessa já foram esperadas como sendo a do fim do mundo e nada aconteceu. Tomara que estejam errados de novo. No mais, teu estilo continua inrepreensível e os textos sempre melhores.

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  2. Não imagino que tal imagem Dantesca foi baseada em um filme catástrofe em lançamento este ano.
    Traz a visão de si (ser humano), dos outros e do mundo.
    Talvez a parte ligada ao Deus Thanatos que nos leva a sombra, a destruição e morte!
    Afinal a vida não e só otimismo e felicidade.!

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  3. Uau...

    A tua visão do Apocalipse leva a diversas considerações. Arrasta o leitor (como ao menos eu me senti arrastado) a um cenário que se faz realidade nossa, fazendo com que se experimente o que há de vir do que está dentro de você.

    O homem, buscando tudo, parece desconsiderar que toda ação pressupõe um reação e que, ao contrário das aparências, a natureza é qualquer coisa menos estática e inerte.

    Mas que, ainda que o mundo caminhe à destruição, Thonny, possamos, você, eu e os nossos que nos dizem respeito, descansarmos nossos anseios mais recônditos e nossos medos mais secretos na esperança de que, ao menos nós, saberemos nao ser assim. E, ainda que sejamos vítimas do descaso alheio, nao nos deixemos exasperar por ele, afligindo nossa alma em uma angústia que nao nos cabe.

    Por outro lado, faz-me parecer que o caos e a destruição (do mundo, da sensação, do sentimento e da vida) são o que motivam a arte e o artista que, em meio a tudo quanto pareça improvável, faz que do nada, do sujo, do feio ou dos três, renasça o que é belo, bom e tocante, para ser a nova esperança na humanidade de amanhã... então, que o amanhã nos chegue captaneados pelos homens de boa vontade e abrilhantado pelos artistas que, como você, até enxergam o caminho mau, mas sabem se desviar para dele, fazer o que é bom.

    Abraço

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  4. Errata ao comentário último:

    "Visão apocalíptica" seria uma designação muito mais precisa do que "visão do Apocalipse" tão cheia de um significado que não se buscou...

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  5. Thonny não dar para comentar sobre a sua visão apocalíptica porque não sobrou mais nada (risos). No entanto posso afirmar que a sua matéria, ou seja, eu a considero uma crônica de uma riqueza imensa, onde você emite uma visão subjetiva, pessoal e fictícia de um acontecimento que prende o leitor pela riqueza do enredo que viaja pelo mundo da arte, literatura e da cultura em geral. Parabéns, e continue nos presenteando com belos textos como este.

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  6. THONNY, ao ler o seu texto percebi que você realiza construções riquíssimas e verdadeiras imagens que nos fazem refletir sobre a nossa condição humana. Destaco, ainda, o caráter intertextual que trouxe ao texto um caráter "multi". Ficou ótimo. Espero que muitas pessoas tenham acesso ao seu blog, a fim de perceberem o quão pequenas são muitas de nossas atitudes; urge, assim, um despertar para essa reflexão. Um abraço. Regiani

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  7. Caro amigo Thonny:
    Que bom está o seu blog!
    O texto revela toda a erudição que compõe sua biografia e nos remete a cenas terríveis que só a observação atenta das consequências das ações humanas pode revelar.
    Mas como seu texto é arte e a arte é a expressão do Belo, expressando uma beleza única nos leva ao que há de mais terrível: o nós mesmos. A fim de que possamos resgatar a auto-consciência e provarmos a você que, graças a advertências como a sua, podemos ser diferentes, altruístas, simples, humanos, conscientes de nossa insignificância diante da infinitude do universo e de sua lógica intangível.
    Abraços a você e a todos os seus leitores.
    Givaldo.

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  8. Thonny
    Este seu texto inaugura, entre nós, este gênero ainda novo do poetar narrativo, da mulireferência, da forma densa e rápida.
    Posso dizer, dada as devidas proporções crítica e pretenções literárias, que sua competência literária para este novo aporte poético foi por demais nítida e potencialmente forte, que te digo que você nasceu para poetar neste gênero.
    Continue, não pare. Continue contribuindo para não deixemos a literatura morrer. Literatura, esta forma sofisticada de trasmitir idéias.
    Parabéns sinceros e críticos.

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  9. Thonny, muitíssimas vezes eu revelei a você o quanto esse texto me impressionou, porque, embora narre o fim de tudo (algo que tanto tememos), possui uma qualidade incrível. Você descreve tudo com uma erudição, uma riqueza vernacular. Não obstante, transmite a mensagem de modo muito compreensível. Você sobrou, abusou, gastou, arrebentou! Como lhe disse, reputo esse texto como o melhor! Parabéns!

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