quarta-feira, 27 de outubro de 2010

GRUPO LGBT CRITICA POSTURA HOMOFÓBICA NO PLEITO ELEITORAL DE 2010

Entrevista feita pela jornalista Carolina Sá a Thonny Hawany

Em pauta nas eleições 2010 os assuntos: aborto, teorias anti ou pró homossexuais – e outras que incentivariam a homofobia – conforme a visão de algumas entidades, tem provocado discussões acaloradas e muita especulação. Enquanto os candidatos ‘x’ ou ‘y’, citados aqui sem conotação eleitoreira, discutem assuntos como estes as prioridades de governo tem sido deixadas de lado.
Para o presidente de Honra do grupo LGBT Arco Íris de Cacoal (leia-se LBGT – Lésbicas, bissexuais, homossexuais e transexuais), Thonny Hawanny, a questão tem se tornado bandeira política de alguns grupos. Ele criticou esta postura que define como “homofóbica”, e disse mais, “as questões do aborto e da comunidade LGBT são de políticas públicas e não de religão”. Para o militante, que também é professor do curso de Letras e acadêmico de Direito de uma faculdade particular em Cacoal, a questão é mais grave do que parece, “a política atual, esta eleição voltou as eras medievais, visto que há uma confusão entre o poder do estado e o poder da igreja”, analisou.

Demonização

Para o presidente a figura do homossexual é vista por vezes de forma ‘distorcida’ e até por que não dizer demoníaca, “existe uma demonização da figura do homossexual para assustar e instigar os fiéis a criar um ódio ao homossexual, o que chamamos de homofobia”, explicou. Ele disse ainda que as igrejas chamadas pelos grupos LGBT de ‘fundamentalistas’, devido a postura anti homossexuais, tem se tornado incentivadoras da homofobia. Para o presidente do grupo Arco Íris a postura seja religiosa ou política de afronta aos homossexuais consiste em um desrespeito a própria lei brasileira, “é um desrespeito a própria Constituição, que diz que o estado é democrático de direito e laico, ou seja, livre”. Para ele ao invés de colocarem em pauta os assuntos aborto e homossexualidade, os candidatos deveriam discutir a questão das drogas, com políticas públicas, tratamento aos dependentes e crianças viciadas.

O debate esquenta

A Administradora de Empresas Eleonice Silveira, que não frequenta igrejas e se diz ‘agnóstica’, diz que a igreja não deve interferir, nem induzir os fiéis a atitudes preconceituosas. E acha que isso teria conseqüências graves, “as pessoas que frequentam as igrejas mais ‘radicais’ são influenciadas de forma muito forte, o que pode trazer resultados ruins, como fomento a discriminação e radicalismos”, explicou. Já para o jovem Luciano Almeida Neto, de 21 anos, que faz parte de um grupo de jovens católicos, os padres também tem uma postura antihomossexual, mas ele não entende que este discurso tenha algum efeito negativo. “Eu nunca vi um padre falar mal de gays com preconceito, eles apenas citam o evangelho”, disse.

Igrejas rebatem

Entre alguns religiosos a polêmica questão é motivo de indignação. O pastor de uma igreja Evangélica de Cacoal, que pediu para não ser identificado de forma a evitar ‘animosidades’ com os grupos LGBT, disse que a igreja quer simplesmente pregar a liberdade religiosa, “não é o pastor ou a igreja que fala mal dos homossexuais, é a própria Bíblia, a Escritura Sagrada que combate estas práticas”, disse o religioso em tom de defesa. O pastor também falou sobre a questão da homofobia, argumentando que nunca as igrejas instigaram a violência física ou psicológica contra as pessoas de ‘orientação diferente’, e afirmou que todos os homossexuais são muito bem tratados na sua igreja, “jamais vamos querer maltratar ou humilhar uma pessoa, queremos apenas o seu bem”, disse.

A ‘recuperação’ dos LGBT

Algumas igrejas adotam uma postura de ‘converter’ o então homossexual a uma prática heterossexual, induzindo-o, ou ‘orientando-o’ a constituir família, leia-se: marido, mulher e filhos. Com relação a isso, um caso ocorrido há pouco mais de um ano chamou a atenção da opinião pública e chocou a comunidade local. Um jovem homossexual de pouco mais de 20 anos, de família evangélica foi induzido pelos familiares a freqüentar a igreja. O pastor e os outros membros passaram a cobrar dele uma atitude ‘normal’, heterossexual, o que o levou a uma profunda depressão. Após alguns meses de prostração de debilidade física e psicológica o jovem veio a óbito.

Caso recente

Durante o sermão da missa realizada nessa terça-feira dentro da comunidade católica Canção Nova, o padre José Augusto criticou um dos candidatos a presidência pela postura ‘supostamente’ favorável ao aborto. “Podem me matar, podem me prender, podem me processar, e, se tiver de ser preso serei, mas eu não posso me calar diante de um partido que está apoiando o aborto”, completou José Augusto, que também se pronunciou contra o casamento homossexual.

Outro lado

No mesmo dia do sermão, o monsenhor Jonas Abib, fundador da comunidade Canção Nova, divulgou uma nota oficial, na qual diz: "a Canção Nova mantém-se alinhada à catequese da Igreja Católica e à sua doutrina comprometida com o direito à vida e à dignidade humana". Em outro trecho, diz que a Canção Nova "não vê cada candidato por suas bandeiras, mas os acolhe como filhos amados de Deus. Cada fiel deve votar de acordo com suas convicções e com a doutrina social da Igreja. (...) Por fim, peço em nome da Canção Nova, perdão por qualquer excesso", diz ele no comunicado. A assessoria ainda informou que o padre José Augusto segue normalmente com suas atividades.

Sem pretensões

Não há qualquer intenção nesta matéria de defender grupos ‘x’ ou ‘y’ ou mesmo encerrar o assunto exposto nesta reportagem. A ideia é tão somente instigar o debate em face de um tema que toma proporções enormes no âmbito social e político, e certamente reflete a postura da população brasileira em relação a assuntos polêmicos, que dizem respeito a valores religiosos, comportamentais e até morais e éticos discutidos no âmbito da política.

Publicado originalmente em:

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

HOMOFOBIA: CONCEITO, ETIMOLOGIA DA PALAVRA E CONSEQUÊNCIAS DO ATO

Por Thonny Hawany

A expressão homofobia e sua legítima significação têm sido alvo de muitos debates entre os estudiosos do assunto. Trata-se de um neologismo formado por dois radicais gregos (homo=igual + phobia=medo). A sua origem tem como marco inicial o ano de 1971, quando foi cunhado pelo psicólogo norte-americano George Weinberg em seu livro “Society and the Healthy Homosexual(1)”.

Com o passar dos tempos, o termo homofobia, criado para significar tão somente medo, aversão e ódio à pessoa homossexual, passou a significar, mais modernamente, quaisquer atos de discriminação contra o homossexual ou contra a homossexualidade.

Não se recomenda, portanto, fazer uma leitura, ao pé da letra, dos radicais que compõem a palavra homofobia. O radical homo que, na palavra homossexual, significa igual; na palavra homofobia, por se tratar de uma apócope(2) da palavra homossexual, ou seja, de uma redução da expressão, o referido radical não tem o mesmo teor semântico e lexical que tem na palavra homossexual. Neste caso, em especial, o radical homo evoluiu para significar o todo e não somente uma parte, ou seja, é uma referência integral à pessoa homossexual.

Já o radical phobos do grego, que significa medo de forma geral, na expressão homofobia quer dizer, além do medo irracional, também a repulsa, o preconceito, a aversão ao homossexual e à homossexualidade. Há quem diga que a expressão certa para este caso seja homofilofobia e que o indivíduo que sofre deste transtorno deve ser chamado de homofilofóbico. Para encontrar discussões dessa natureza, basta um giro pela internet para que a palavra homofilofobia surja aos montes em substituição a tão conhecida expressão homofobia.

A consagração lexical de um ou de outro termo será inevitável. Na corrida pela popularidade tem ganhado o vocábulo homofobia. Na relação homem versus palavra, nós não as escolhemos, elas são quem nos escolhem. Apenas as lemos, registramo-las e as estudamos como fazem os filólogos. Se homofobia ou homofilofobia, isso não importa, o importante é o combate veemente à patologia que elas significam e que pode ir de uma simples manifestação de repulsa e medo ao cometimento de um crime por raiva e ódio.

Deixando de lado a etimologia da palavra para me dedicar parte de minhas reflexões à materialização do fenômeno, deparei-me com as proposições seguintes: a homofobia poder se dar de modo sutil ou explícito. Tanto a homofobia velada quando a explícita são preocupantes. Quaisquer umas das formas de homofobia podem levar o indivíduo a consequências desastrosas.

No Brasil e no mundo, é crescente o movimento em favor da responsabilização cível e criminal do agente homofóbico. A exemplo do Estado de São Paulo e de outras regiões do mundo, há estados e municípios brasileiros que já se posicionaram favoravelmente à criminalização da homofobia e à consequente punição do indivíduo que mata, que fere ou que causa lesões psicológicas ao homossexual.

Em tese, o número de criminosos que agem de modo velado, se comparado ao daqueles que agem e se mostram, é infinitamente maior. O indivíduo homofóbico pode estar no trabalho, no meio familiar, no ambiente escolar, na igreja, ou em quaisquer outros segmentos da sociedade. Como já dissemos, muitos são declarados, enquanto outros se escondem por detrás de estruturas sacro-fundamentalistas e de culturas tradicionais e, de lá, usam de subterfúgios para dar ares de legitimidade e de normalidade à prática horrenda de terror e de incitação à morte de homossexuais.

O homossexual, vítima passiva da discriminação velada, sofre tanto quanto aquele que é vítima de homofóbicos declarados. A discriminação velada acontece silenciosa e progressiva, machuca a mente, mata a alma e fere o corpo. A pessoa vítima de homofobia perde a razão de existir como empregado nas relações trabalhistas, como aluno ou professor nas relações escolares, deixa de ver sentido nas relações com a igreja e, por vezes, vê-se obrigado a abdicar do aconchego da familiar pelo banimento. Não há homem, não há mulher que seja feliz num meio em que não seja respeitado(a) e querido(a).

Ao longo dos tempos, a experiência tem-me mostrado que a homofobia velada leva o indivíduo a profundos níveis de estresse, de angústia e de depressão e que, quando essas doenças enraízam-se na alma e na mente, elas atacam também o corpo e corroboram para que a vítima sinta-se acuada e perca parte significativa de suas habilidades físicas, cognitivas e, em especial, de sua a capacidade de se relacionar com o meio social. A sociedade e seus meandros perdem o significado e deixam de ser a razão de viver, fato este que justifica o suicídio em muitos casos.

A homofobia e suas consequências transcendem a esfera do conhecimento sensível e atingem os núcleos de pesquisa acadêmica especializada. Isso é um passo gigantesco, mas, além de estudos, é necessário que outras medidas de urgência sejam tomadas a fim de extirpar o mal que atinge milhares de nós. A homofobia, que alastra por todo o mundo, sustentada por uma falsa ética fundamentalista, moralista e fora de contexto, não se extirpa aparando-lhe as arestas, mas com a consecução de leis que lhe coíbam a existência e a prática.

Se o Estado não se adiantar em regular essas questões, terá que arcar com o ônus de sua ingerência. Anotem! Estamos na iminência de um novo fenômeno de saúde pública que, na escuridão dos cérebros das vítimas de homofobia, desenvolve-se lenta e progressivamente.

Em conclusão, entendo que a homofobia é mais que o ato de discriminação do indivíduo homossexual, é mais que o medo, é mais que a aversão, é mais que o ódio; é a falta de respeito ao outro, é o descumprimento de preceitos legais, é a ausência de ética social, é, acima de tudo, a falta de AMOR AO PRÓXIMO da forma como ele nasce e desenvolve a sua maneira de SER.

1. A Sociedade e o Homossexual Saudável.
2. Supressão de fonema(s) no final da palavra.
Referência:
WEINBERG, Georgee. Society and the healthy homossexual. New York: St Martin's Press, 1972.

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sexta-feira, 8 de outubro de 2010

JEAN WYLLYS: UM DEPUTADO EM FAVOR DA CAUSA LGBT

Por Thonny Hawany

Jean Wyllys, ex-integrante do reality show Big Brother da Rede Globo, foi eleito pelo Estado do Rio de Janeiro a Deputado Federal com propostas muito claras em favor dos direitos da comunidade de lésbicas, gays, bissexuais e transexuais. Jean obteve 13.018 votos e assim conquistou uma das concorridas cadeiras no Congresso Nacional.

Jean Wyllys é professor universitário e jornalista, é um jovem de perfil bastante arrojado e deverá, sem sobra de dúvidas, constituir uma das principais vozes em favor da consecução de leis que edifiquem a cidadania LGBT no Brasil.

Conforme disse o próprio Jean em seu perfil no Twitter: "é uma enorme responsabilidade ser aquele em quem se deposita tanta esperança. Quase 99% das mensagens que recebi são de esperança e alegria! Mas, como já disse, darei o melhor de mim para fazer um mandato honrado que orgulhe não só os que votaram em mim[...]”.

Jean Wyllys, em virtude de seu bom caráter e preparo intelectual, pode ser um representante de peso da causa LGBT no cenário político nacional, mas para isso terá que fazer uma política de entendimentos e de coalizões.

O deputado Jean Wyllys, pelo que se percebe, tem recebido o apoio da comunidade gay brasileira. A notícia de sua eleição tem sido bem recebida pelos militantes LGBTs que vêem nele uma esperança para a causa que, nos últimos anos, tem enfrentado rigorosa aposição dos religiosos fundamentalistas.

Assim sendo, resta-nos esperar que Jean dê o melhor de si na representação LGBT no Congresso Nacional. Como militante da causa, particularmente, acredito no seu potencial e digo mais: estou otimista e esperançoso. Acredito que a causa agora pode ganhar um outro perfil no Brasil. Parabéns Jean Wyllys.

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