quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

2ª CONFERÊNCIA LGBT BRASILEIRA TEM INÍCIO EM MEIO A TURBULENTAS DECLARAÇÕES

Por Thonny Hawany

A segunda Conferência Nacional de Políticas Públicas e Direitos Humanos de LGBT tem início hoje, dia 15 de dezembro de 2011 e deverá terminar no domingo, dia 18, na Capital Federal. O tema da conferência “por um país livre da pobreza e da discriminação: promovendo a cidadania de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais é bastante abrangente e promete, em si, muitas mudanças, mas, se tomarmos como exemplo os frutos quase zero da primeira conferência, a segunda será mais um evento que em quase nada contribuirá para a efetivação, de fato e de direito, de políticas públicas LGBT. Enquanto tivermos um governo amarrado com interesses religiosos fundamentalistas, não teremos clareza nos rumos das políticas públicas de lésbicas, de gays, de bissexuais e de transexuais no Brasil.

Logo pela manhã, li no perfil de Yone Lindgren, no Facebook, as seguintes palavras, “II Conferência Nacional LGBT... Muita emoção e responsabilidade... O ruim é que muita gente ainda pensa que é turismo... E vamos que vamos!!!”. De forma bem humorada, a militante faz uma crítica bastante séria e denuncia os turistas de conferência. Há muitos delegados eleitos nas conferências municipais e regionais que aproveitam para fazer turismo nas capitais de seus estados; da mesma forma, nas conferências estaduais, são eleitos os turistas nacionais, salvo as exceções daqueles que, verdadeiramente, vão para fazer valer, ainda que na palavra, os direitos LGBT. Concordo com o que afirmou a companheira Yone Lindgren visto que temos exemplos comprovados nos eventos anteriores e isso não ocorre somente nas conferências LGBT, é uma prática (re)corrente em todos os eventos desta natureza.

Ainda na minha leitura matinal, em visita ao site GayBrasil.com deparei-me com uma declaração de Luiz Mott, decano do movimento LGBT Brasileiro dizendo que não irá à conferência porque “nunca, como nos últimos dez anos, o Governo Federal fez tanta propaganda, prometeu horrores, fez conferências e grupos de trabalho e não obstante, como disse duas vezes a Senadora Marta Suplicy, ‘a situação piorou no Brasil para os homossexuais: na Argentina tem casamento gay, aqui tem espancamento!’ Quando Lula iniciou seu governo, matava-se um gay ou travesti a cada 3 dias. Com Dilma a imprensa noticia um homocídio a cada 36 horas. Enquanto apenas 1% dos homens heterossexuais são HIV+, os gays atingem 11%, recebendo apenas 0,9% do orçamento para a prevenção da Aids”. Ele tem toda razão, bastam de propagandas governamentais, são necessárias ações que sejam efetivas, é preciso mostrar resultados e não promessas dainte dos dados apresentados por Luiz Mott.

Em suas contundentes declarações, Mott intitula-se independente para as críticas e não as deixa de fazer. Não ficaram de fora o governo nem as lideranças do movimento LGBT. Para ele, as nossas lideranças estão ligadas a interesses políticos governamentais e, quase sempre, sedem ou se deslumbram diante de migalhas. “Tenho sido o crítico mais contundente, desmascarando os equívocos do Governo e das lideranças pelegas no enfrentamento da homofobia: é absolutamente inaceitável que o primeiro Conselho LGBT tenha como presidente um preposto governamental heterossexual; é ultrajante que a Presidenta da República tenha vetado o Kit Antiomofobia Escolar e continue a se referir a nossa a orientação sexual com termos do senso comum; é vergonhoso que nossas lideranças partidarizadas sejam tão submissas ao faz de conta governamental, sem ouvir o clamor do povo LGBT que não aguenta mais tanta humilhação.”

Para finalizar Mott recusa o convite para participar da segunda conferência e justifica: “recuso o convite para participar desta 2ª Conferencia Nacional porque não quero ser conivente com mais esta encenação bufa do atual Governo e de seus apoiadores, que se contentam com migalhas e vendem sua dignidade por um prato de lentilhas. Torço para que eu esteja errado e serei o primeiro a reconhecê-lo se após mais esta conferência milionária o Brasil deixar de ser o campeão invicto de crimes homofóbicos. E aviso pela última vez: transfiro à Secretaria de Direitos Humanos a responsabilidade pela manutenção do banco de dados sobre assassinatos de LGBT no Brasil. 235 ‘homocídios’ até novembro. Quem pariu Mateus, que o embale!”

Em assim o sendo, ou as políticas públicas para LGBT, no Brasil, saem do papel e da mídia e se materializam em ações de fato, ou o que parecia ser o caminho para a efetivação de direitos e do reconhecimento da cidadania das pessoas LGBT (as conferências) não passará, para muitos, como afirmou Lindgren, de uma viagem de turismo patrocinada pelo Governo Federal para que alguns despolitizados e pseudo-militantes, salvo as exceções, conheçam a exuberante arquitetura de Brasília e, de lambuja, ainda assistam e batam palmas para mais palavras, mais papéis e mais imagens de sustentação do insustentável plano de políticas públicas e direitos humanos LGBT.











Um comentário:

  1. Thonny, meu amigo, todas essas turbulências, só contribuem para o enfraquecimento da luta do movimento LGBT. Promessas e mais promessas do Governo e ações de fato nenhuma, tudo isso já está cansando e os nossos inimigos ganhando fôlego sobre nós, quiçá estejamos errados e que o Governo tome uma decisão eficaz, caso contrário, é como afirma o Mott, só aumentará o genocídio LGBT.

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