quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

SANTOS CATÓLICOS GAYS: BACO E SÉRGIO

Por Thonny Hawany

Não é segredo para ninguém que a tolerância religiosa em relação à homossexualidade mudou ao longo dos tempos, de mais para menos tolerante, afirma Cynara Menezes ao iniciar o que eu chamo de a quarta fase de seu artigo publicado na Revista Carta Capital de 19 de novembro de 2011.


Um fato bastante curioso apresentado por ela são os dados da pesquisa do americano John Boswell, pesquisador da Universidade Yale, falecido aos 47 anos em 1994. Boswell passou a sua vida acadêmica inteira investigando a homossexualidade e suas relações com o cristianismo.


Nos achados de John Boswell, ele atesta que até o século XII a Igreja, em nenhum momento, condenou as relações entre pessoas do mesmo sexo. Segundo Cynara, o pesquisador “revelou no seu livro O Casamento entre Semelhantes – Uniões entre pessoas do mesmo sexo na Europa pré-moderna (1994) a existência de manuscritos que comprovavam a celebração de rituais matrimoniais religiosos durante toda a Idade Média por sacerdotes católicos e ortodoxos para consagrar uniões homossexuais”.


E agora? O que levou a igreja a mudar de ideia e passar a considerar pecado aquilo que ela mesma dava anuência e consagrava até a Idade Média? Interesses políticos, bélicos, e econômicos podem ser as chaves possíveis para a resposta.


As cerimônias eram tão sérias que possuíam até santos protetores. Para Cynara, “nos 80 manuscritos descobertos por Boswell sobre as bodas gays entre os primeiros cristãos, invocavam-se a proteção de dois santos católicos: Sérgio e Baco, tidos como homossexuais.

São Sérgio e São Baco são comemorados no dia 7 de outubro. São entidades quase que apagadas do imaginário popular, muito provavelmente por conta de sua relação com a homossexualidade. São Sérgio e São Baco aparecem sempre juntos nas imagens e são os preferidos na iconografia de diversos artistas plásticos ligados ao movimento LGBT, segundo afirma Cynara Menezes em seu artigo.


Conforme dados colhidos na Internet e mesmo na matéria de Carta Capital, Baco e Sérgio foram soldados de Maximiliano, imperador Romano, os dois foram martirizados até a morte por se negarem a adorar o deus Júpiter. Baco morreu primeiro em face dos açoites que recebera. Segundo uma crônica do século X, Sérgio chorava e lamentava a perda de Baco com as seguintes palavras: “te separaram de mim, foste ao Céu e me deixaste só na Terra, sem companhia nem consolo”.


Essa deve ter sido uma linda história de amor apagada pelos interesses contrários da igreja ao amor entre pessoas do mesmo sexo a partir do século XII. Embora não seja nada fácil, muitos outros documentos guardados pela própria Igreja Católica e por seus segmentos secretos devem guardar muitas informações que expliquem essa mudança de posição da Santa Madre Igreja em relação às uniões homoafetivas. Se você não tinha um padroeiro, agora já tem e não pode se queixar, são dois.

MENEZES, Cynara. Ser gay é pecado? In Carta Capital de 19 de novembro de 2011.

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