quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

“SER GAY É PECADO?”

Por Thonny Hawany

Hoje à tarde, enquanto aguardava a próxima aula, na sala dos professores, recebi de uma colega, professora de Matemática, por saber de minha militância LGBT, de presente, uma revista Carta Capital de 16 de novembro de 2011 que, em suas páginas de 56 a 61 traz uma matéria espetacular a respeito do tema que usei como título desta postagem.

A matéria foi escrita pela jornalista Cynara Menezes que, de modo sério, tratou de um assunto polêmico com bastante maturidade e sem subjetivismos. A matéria, além de bem escrita, apresenta compromisso com a história, com a informação e, acima de tudo, com a verdade.

Pensei em escrever um único texto comentado os pontos mais importantes da matéria jornalística de Cynara Menezes, mas ao chegar ao final da leitura, percebi que, se tratasse numa única postagem de toda a matéria esboçada pela autora, poderia afastar o leitor pela natureza longa e cansativa do texto, ou, por outro lado, poderia privar o leitor de alguns assuntos tratados nas entrelinhas, ou nos subtemas de forma sutil e responsável.

Logo no início, a autora nos faz entender que “um grupo de influentes religiosos católicos e protestantes opõe-se à onda conservadora e defende que a Bíblia não condena a homossexualidade”. Só para constar, a autora usou a palavra “homossexualismo” no texto original. Por força de minha natureza militante, eu o corrigi. Mas isso não depreciou o texto em nada.

Para abrir as discussões, Cynara fala da repetida ladainha do pastor Silas Malafaia, da Assembléia de Deus, possivelmente, o mais afamado representante dos conservadores e míopes sociais.

A meu ver essa tal ladainha: “homossexualidade na Bíblia é pecado. Pode tentar forçar, mas é pecado”. Mostra que nem ele mesmo acredita no que está dizendo. Há uma lacuna discursiva do tamanho de uma cratera lunar “no pode tentar forçar, mas é pecado”. Não é preciso ser especialista em Análise do Discurso para ver isso. Só os míopes como ele continuam encontrando consistência nestas frases e bordões chinfrins.

No decorrer da matéria “Ser gay é pecado?”, diversos religiosos e estudiosos, baseados na mesma bíblia do Malafaia, apresentam opiniões contrárias às dos fundamentalistas. Segundo Cynara todos os seus entrevistados foram unânimes em dizer que “a mensagem de Jesus era de inclusão: se fosse hoje que viesse à Terra, o filho de Deus teria recebido os homossexuais de braços abertos.

O primeiro dos entrevistados na matéria de Carta Capital é a maior autoridade Anglicana no Brasil, o bispo dom Maurício Andrade que, logo de início afirmou: “é muito provável que as pessoas homoafetivas fossem acolhidas por Jesus. O Evangelho que ele pregou foi de contracultura e inclusão dos marginalizados”.

Dom Maurício Andrade, assim que o STF decidiu em favor da união estável entre pessoas do mesmo sexo, em maio de 2011, fez veicular no Brasil inteiro um documento em que a Igreja Anglicana se posicionou favorável à decisão. "A orientação sexual não é o que vai definir a nossa salvação." Diz dom Maurício Andrade, bispo primaz da Igreja Anglicana à Carta Capital.

Para finalizar sua participação na matéria, dom Maurício afirmou, de modo brilhante e veemente: “quem interpreta que a Bíblia condena a homoafetividade está sendo literalista. Cada texto bíblico está inserido num contexto político, histórico e cultural, não pode ser transportado automaticamente para os dias de hoje. Além disso, a Igreja tem de dar resposta aos anseios da sociedade, senão estaremos falando com nós mesmos”.

Deus não condena a homossexualidade. Tudo o que há é fruto de Deus. Então somos frutos de sua criação. Jesus não condenou, quando por aqui passou, a homossexualidade. Os trechos que fazem menção a homossexualidade, na Bíblia, não constituem uma questão teológica, mas uma discussão puramente histórica e cultural.

Ao ler, ou ouvir verdadeiros teólogos falando sobre assuntos bíblicos, compreendemos o quanto nada sabem os teólogos analfabiblicos. Eles leem a letras e se esquecem que todas as palavras possuem um espírito que transcende significados para além si mesma.

A literalidade só mostra o quanto os fundamentalistas estão equivocados ao se levantarem contra a homossexualidade, ao imolarem gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais, estão deixando de ensinar a principal de todas as lições da própria Bíblia que é o “amai uns aos outros”.

Conforme eu disse no início, farei uma cisão, propositalmente, pedagógica da matéria “Ser gay é pecado?” de Cynara Menezes para trabalhar melhor as entrelinhas e os subtemas em outras postagens. Mas se não quiser esperar, recomendo a leitura, diretamente na fonte: Revista Carta Capital de 19 de novembro de 2011, ano XVII. N. 672.

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