segunda-feira, 12 de março de 2012

ATENÇÃO: OEA ALERTA SOBRE RISCO DE MORTE PARA ATIVISTAS SOCIAIS NO BRASIL

Por Thonny Hawany

Símbolo do Organização dos
 Estados Americanos
O histórico de ativistas sociais mortos no Brasil em virtude da função que exercem não é nada novo. Quem não se lembra de Chico Mendes e de Dorathy Stang e de tantos outros? Há muitos que já se esqueceram, mas nós que lutamos na mesma trincheira e que corremos os mesmos riscos não podemos nos esquecer dessas baixas tão importantes no exército do ativismo social brasileiro.

Recentemente, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos – CIDH – da Organização dos Estados Americanos – OEA – alertaram para o risco que correm ambientalistas e líderes do movimento LGBT brasileiro. Imaginem que, em pouco menos de cinco dias, precisamente, nos dias entre 24 e 28 de maio de 2011, a CIDH/OEA recebeu notificação de ameaças de morte contra 125 ativistas LGBT e camponeses que militam em favor do uso e sustentável do meio ambiente no Brasil.
José Claudio Ribeiro da Silva e
Maria do Espírito Santo da Silva

Para a CIDH, as principais vítimas são aquelas que denunciam o desmatamento da floresta amazônica. Para a Comissão de Direitos Humanos da OEA, os assassinatos do casal José Claudio Ribeiro da Silva e de sua companheira Maria do Espírito Santo da Silva, ativistas do Conselho Nacional de Povoações Extrativistas do Pará, ONG que trabalha em favor da reserva ambiental situada na cidade Nova Ipixuna, no Pará, foi um claro flagrante do risco que correm os que militam à frente de causas sociais. Para quem não se lembra, o casal José Cláudio e Maria do Espírito Santo (foto) foi morto no dia 24 de maio de 2011, nas proximidades da reserva ambiental a que defendiam por lá morarem há vinte anos e sobreviverem com o extrativismo de castanha-do-pará.

Adelino Ramos
Além dos assassinatos do casal José Claúdio e Maria do Espírito Santo, a Comissão de Direitos Humanos da OEA também foi informada da morte de Adelino Ramos, ativista do Movimento Camponês Corumbiara, por denunciar o desmatamento da Floresta Amazônia nos Estados do Acre, do Amazonas e de Rondônia. Foi alvo de críticas da CIDH o assassinato de Gabriel Henrique Furquim, membro do Grupo Dignidade que tem como defesa os interesses de gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais.

Gabriel Henrique Furquim
Grupo Dignidade
Os grupos, associações e ONG LGBT estão pondo por terra interesses de pessoas muito influentes religiosa e politicamente no Brasil. É preciso que todos os que trabalham em favor de questões sociais fiquemos atentos para não tombarem na luta diante da vontade de grupos e pessoas homofóbicas contrários ao movimento. É preciso cautela, união e transparência. Esse alerta é sério e merece ser levado em conta. Os líderes de movimentos sociais não podem se expor ao perigo. Para isso, é necessário uma militância planejada e coletiva. Aquele, cuja luta fere interesses de poderosos em favor de minorias, deve ficar alerta. A cautela é necessária e urgente. Não devemos parar a luta por medo dos números apresentados pela OEA. Quem não tem luta, não tem inimigo e vise-versa. A igualdade e o respeito à dignidade da pessoa humana são a única solução para o término dos embates que hora são travados contra os que destroem a vida no planeta. DIREITOS HUMANOS JÁ!

ONU ENTRA NA LUTA CONTRA A DISCRIMINAÇÃO LGBT

Neste dia 7 de março de 2012, o secretário-geral da Organização das Nações Unidas – ONU – solicitou que a comunidade internacional combata a violência contra gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais. Embora a ONU seja uma instituição poderosa, isso não impedirá que ela encontre resistência, especialmente, daqueles países em que a homossexualidade ainda é tida como crime.

Para Ban Ki-moon, "nós vemos um padrão de violência e discriminação dirigida a pessoas só porque elas são gays, lésbicas, bissexuais ou transexuais". Em continuação, afirmou que “essa é uma tragédia monumental e que fere a nossa consciência coletiva. É também uma violação do direito internacional.” O secretário-geral da ONU disse isso na sessão do Conselho de Direitos Humanos da ONU em Genebra.

Conforme Ban Ki-moon “quaisquer ataques aos homossexuais, bissexuais e transexuais serão ataques aos valores universais da Organização das Nações Unidas que jurou defender e respeitar.” Na continuidade de sua fala, o secretário-geral apelou para que todos os países e para que todas as pessoas do mundo apoiem o homem e a mulher homossexual, não os discriminando.

A respeito do assunto, a alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, Navi Pallay, afirmou que todas e quaisquer leis que criminalizam a homossexualidade ferem, diretamente, os direitos humanos e causam, segundo ela, “um sofrimento desnecessário” a gays, a lésbicas, a bissexuais, a travestis e a transexuais. Haja sofrimento. Só nós LGBT sabemos o quanto sofremos quando a sociedade nos ataca física e moralmente.

Muitos líderes de países homofóbicos têm a homossexualidade como um conflito ideológico, cultural e religioso, afirmou Pillay. Para ela, esse confronto entre certas culturas e os direitos humanos é absolutamente desnecessário. Em todos os casos, os países que criminalizam a homossexualidade caminham contra os direitos individuais da igualdade, da liberdade e da dignidade da pessoa humana. Isso é notório até para os mais leigos.

Em face do exposto, sabemos que a luta não será fácil, mas é preciso acreditar nela. Temos a ONU e líderes de países desenvolvidos, a exemplo dos Estados Unidos da América, como aliados incondicionais da luta LGBT. Como sempre falo, o átomo do preconceito é difícil de ser rompido, mas não impossível. O que precisamos é de um movimento sério que não agrida o outro, ainda que esse outro seja um ferrenho defensor de culturas contraditórias à homossexualidade. O diálogo ainda é o melhor caminho para vencer o preconceito e avançar histórica e culturalmente.

FONTE:
http://www.pernambuco.com/ultimas/nota.asp?materia=20120308100849&assunto=18&onde=Mundo



sábado, 10 de março de 2012

CERTIDÃO DE CASAMENTO DE THONNY E RAFAEL

Por Thonny Hawany


Alguns amigos me pediram para ver de perto uma certidão de casamento civil entre duas pessoas do mesmo sexo. Não sei se há diferença das outras certidões. Então, para deleite desses amigos e amigas, segue abaixo uma cópia eletrônica da nossa certidão de casamento: marco do amor de Thonny e Rafael reconhecido e anotado pela honrosa justiça de Rondônia.




quarta-feira, 7 de março de 2012

PRIMEIRO CASAMENTO CIVIL HOMOAFETIVO EM RONDÔNIA

Thonny Hawany

Primeiramente, pedirei licença aos meus leitores para falar de mim mesmo, de Rafael, meu esposo, marido, companheiro, convivente e amigo; de minha família, de nossos sonhos, de nossas realizações, de nossos objetivos, metas, do que já concretizamos e, acima de tudo, do nosso casamento.

A vida nunca me foi mansa em virtude da minha identidade de gênero e orientação sexual, precocemente, percebidas aos quatro anos de idade. De igual modo, a vida de Rafael nunca lhe poupara por ter nascido com a capacidade de amar outro homem. O medo em detrimento de sermos diferentes e as dificuldades decorrentes disso sempre nos fizeram companheiros, mas a cada dia que passa, esse mesmo medo do preconceito dissipa-se e, em seu lugar, nasce a esperança de um dia breve podermos cantar “Liberdade, Liberdade! Abre as asas sobre nós...”

O certo e o errado, para mim, nunca existiram de verdade. O que é certo para uns, pode ser errado para outros e vice-versa. O ético, o não ético, a moral, o imoral e os tais bons costumes sempre me foram fenômenos para justificar a hipocrisia de uns poucos que insistem em discriminar os que são diferentes assim como eu, Rafael e mais de vinte milhões de brasileiros.


No dia 19 de setembro de 2010, Rafael e eu nos conhecemos. Foi simpatia a primeira vista. Ele com um metro e noventa e dois ou três. Enorme! E eu, com meus bem medidos um metro e sessenta e sete. Um Pequeno Polegar perto dele! Ele com pouco menos de 20 anos, eu, com pouco mais de quarenta. Não imaginamos que nasceria de pessoas tão diferentes fisicamente um grande amor, mas já sabíamos, desde o início, que seríamos “amigos para sempre... Na primavera ou em qualquer das estações. Nas horas tristes, nos momentos de prazer. Amigos para sempre...”


Não demorou muito e a nossa amizade fez-se o mais forte e puro amor. E, a partir daí, as nossas metas e objetivos passaram a ser uma só: a concretude desse sentimento que nos envolvia. Não queríamos nada à margem da lei. Há muitos de nós vivendo na clandestinidade. Não queríamos regularizar somente a nossa relação, queríamos, com o ato, ir muito além de um casamento. Queríamos que nossa união representasse um seguro exemplo a todos os companheiros e companheiras LGBT que militam pela igualdade. Queríamos que todos vissem, por intermédio de nossa união, que é possível viver um amor livre da discriminação. A esperança é a chave de tudo e a vontade é a mola propulsora do querer. Querer é poder! A Justiça do Brasil está de braços abertos para nos acolher. Que o digam a promotora de Justiça Lissandra Vaneska Monteiro Nascimento Santos e o Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara Cível da Comarca de Cacoal, Áureo Virgílio Queiroz – ambos responsáveis pela sentença que autorizou o meu casamento. Rafael e eu seremos eternamente gratos à Justiça de Rondônia pelo ato respeitoso em favor do nosso AMOR.


Deus escreve certo por linhas tortas, o STF – Supremo Tribunal Federal, em maio de 2010, equiparou a união estável entre pessoas do mesmo sexo às uniões entre homem e mulher deixando entender que, assim como estas, aquelas também poderiam ser convertidas em casamento e, deste modo, nós nos procedemos. Estava aí, a chave que precisávamos: casar amparados pela lei. Fomos legalmente os primeiros a receber no Estado de Rondônia uma autorização judicial para o casamento civil homoafetivo.


No dia 3 de março, Darciano Costa de Souza, o Rafa, passou a ser Darciano Costa de Souza e Silva eu deixei de ser Antônio Carlos da Silva, para ser Antônio Carlos da Silva Costa de Souza conforme está impresso e certificado na Certidão de Casamento devidamente assinada pela oficial do Cartório de Registro Civil de Cacoal, Francinete Lima D’Ávila, depois do cerimonial civil presidido pelo senhor juiz de paz Mizael Gonçalves de Oliveira.


O Cerimonial foi, impecavelmente, dirigido pelo amigo e militante LGBT, Adriano de Souza, que dividiu espaço na tribuna com a professora Aidê de Matos Athaíde. Todas as mensagens e músicas foram escolhidas obedecendo a critérios de muito bom gosto. Para o cerimonial, “o amor, como o sentimento mais nobre e a essência de Deus” foi a força motriz que nos moveu em direção um ao outro e ambos ao encontro de todos. E disso eu não posso duvidar. O amor resume o casal Thonny e Rafael. Nós nos tornamos um só perante Deus e perante os homens e mulheres. Havemos de honrar os votos que prestamos um ao outro no dia 3 de março de 2012 na presença de mais de 140 convidados entre amigos e familiares.


O salão de festas do Hotel Catuaí não estava preparado para qualquer casamento, estava decorado com requinte para o primeiro casamento civil autorizado judicialmente entre duas pessoas do mesmo sexo em Rondônia. Rafa e eu tivemos direito a padrinhos escolhidos entre nossos melhores amigos: Carolina de Sá e Silva e Fábio Diniz e Silva; Ricardo Júnior Cipriano Pereira e Adilson Pereira de Souza; Marco Aurélio Rodrigues e Guta de Matos Machado; Paulo Rufino Góes e Raflézia Cássia da Costa; Sérgio Nunes de Jesus e Kelly Kristian dos Santos Melo; Orlando Cagliari Júnior e Neuza Luiz de Oliveira. Tivemos também a linda criança, quase uma moça, uma fada, Vitória Fernandes como nossa daminha de honra e a amiga incondicional Jordana Ferreira como madrinha das alianças. Jefferson Wagner Silveira e Silva, nosso filho de 11 anos, um rapaz lindo e inteligente, esteve o tempo todo aconselhando-nos e nos amparando em tudo o que precisávamos, especialmente, com sua anuência, com seu abraço desmedido, com seu sorriso menino, com sua força e suavidade de um anjo apaixonado.


Depois dos sonoros Sins e dos votos de fidelidade, o cerimonial passou a palavra para o religioso Jeferson Simpson que, em nome de Deus, abençoou a mim, a Rafael e a todos os que estavam presentes. Sobre a presença do pastor Jeferson Simpson em nosso casamento, eu pretendo dedicar o próximo texto para contar como e por que ele estava lá. Antes de aceitar o nosso convite Jefferson Simpson disse-nos que só o faria se pudesse antes conversar comigo e com Rafael para nos explicar alguns princípios bíblicos e qual seria o papel dele no nosso casamento. Para nós ele disse: “Nada na bíblia me faz celebrar a união de vocês dois, mas tudo nela me faz abençoar a você Thonny, meu amado irmão, a você Rafael, meu amado irmão, e a todos os que estiverem lá”. Por fim, ele nos impôs uma única condição. Aceitamos cegamente. “Deixarei que o Espírito Santo de Deus fale por intermédio de mim, confie nele”. Confiamos! E lá estiveram Jeferson e o Espírito Santo de Deus para nos abençoar. Só Rafael e eu sabemos o quanto de graça e de glória nos foi derramado, o quanto do poder do Espírito Santos de Deus nos invadiu quando sobre nossas cabeças Jeferson Simpson sobrepôs suas mãos. Mas essa história, caro leitor, você terá que aguardar para ler na próxima postagem.


Havendo findado o cerimonial civil e a benção, dirigimo-nos ao estúdio para as fotos, as quais tiveram que ser adiadas em virtude da fila de padrinhos, amigos e familiares que se formou para nos abraçar e para registrar conosco aquele momento de muita alegria.

Não posso deixar de registrar que, ao contrário das famílias que discriminam seus filhos e filhas homossexuais, Rafael e eu recebemos a benção de nossas famílias. Rafa entrou conduzido por sua amada mãe, Maria do Socorro da Costa e eu por minha amada irmã, Cléo Silva, que veio de São Paulo para representar minha amada mãe e toda a família Silva que ficou lá de tão longe torcendo por minha felicidade.


Depois da sessão de fotografias e da recepção feita aos amigos e familiares, brindamos, sorrimos, cumprimentamos todos os presentes, de mesa em mesa, jantamos, confraternizamos e dançamos a tradicional falsa que propositalmente foi mixada com a música de Gloria Gaynor “I Will Survive”.


A recepção dos convidados e parte do jantar teve como atração o músico e vocalista Silvanei Marezia e todo o baile foi tocado e animado pelo amigo de coração, DJ oficial da Parada do Orgulho Gay de Porto Velho por 9 anos, Revanche, que veio da capital para fazer a alegria de todos no nosso casamento.


Não podemos deixar de falar da imprensa e de sua importância para o a concretude de nossos sonhos. Rafael e eu agradecemos a todos da imprensa televisada, falada e escrita pela importância que deram ao nosso AMOR. Conforme eu disse numa de minhas muitas entrevistas, “o nosso casamento não representou uma vitória somente para nós dois, mas para todo o movimento LGBT de Cacoal, de Rondônia, do Brasil e do Mundo. Aos poucos, estamos concretizando e tomando posse dos princípios constitucionais da igualdade, da liberdade e, acima de tudo, da dignidade da pessoa humana.


Finalizo esta postagem agradecendo a amiga e Secretária de Ação Social de Cacoal, Izabella Lisboa Funari Borghi que, na oportunidade, acompanhada pelo seu esposo Claudemir Borghi, falou da emoção de estar ali presenciando aquele ato a que ela mesma caracterizou de histórico, leu uma mensagem falando de amor e direito e nos felicitou em seu nome e em nome do prefeito municipal Padre Franco Vialeto.


Depois do baile, Rafa e eu fomos para a tradicional lua-de-mel a que pretendemos chamar de descanso nupcial. No domingo e segunda-feira, passamos bons momentos no Cacoal Selva Parque sob os cuidados de funcionários atenciosos e na segunda e quarta, estivemos no Hotel Fazenda Pau D’Alho nas mediações de Presidente Médici e Ji-Paraná onde fomos recebidos com muito carinho pelos proprietários e demais funcionários. Mas essas são outras histórias que quero contar com detalhes em outras postagens.

OBS.: Este texto poderá ser copiado e publicado em outros sites e blogs e citada a fonte primária.