quarta-feira, 20 de junho de 2012

MENTIRAS RITUAIS

Moises Selva Santiago (*)

A primeira vez que li a expressão “mentiras rituais” foi no livro de Margaret Halsey “The Pseudo-ethic: speculation on American politics and morals” (Editora Civilização Brasileira). Autora premiada, Halsey afirma que “dentro da cultura, há um encantamento contínuo e tranqüilizante – nos livros, jornais, revistas, radiotelevisão, conversa entre amigos – de Mentiras Rituais.” Diz que essa frase “é hoje menos áspera do que soa, porque a Mentira Ritual é sentida, confortavelmente, como um ritual e não como prática de mentiras.” A autora demonstra a amplitude desse comportamento social, incluindo a esfera religiosa: “As organizações religiosas aprenderam as técnicas comerciais de promoção e relações públicas”.

Escrevendo no início dos anos sessenta, Halsey continua atual, vez que estamos submersos num oceano de lama religiosa em pleno século XXI. Observe os detalhes: a mentira ritual é encantadora, multiplicadora e tranqüilizadora, além de não demonstrar constrangimentos, pois se trata de um ritual. E, mesmo que alguém não aceite, todos nós praticamos rituais; ou seja, vivenciamos comportamentos que simbolizam ideologias e ensinamentos. A abrangência dos rituais está justamente por serem eles usados para se alcançar diferentes propósitos, desde a satisfação de necessidades emocionais, fortalecimentos de laços sociais, aprovação social, o simples ato de apertar a mão do outro ou mesmo o cumprimento de obrigações religiosas.

Sobre as atuais expressões religiosas, é impressionante a presença das mentiras rituais. Halsey enxerga que o meio religioso vem apresentando padrões comportamentais tão deteriorados, se comparados à proposta original bíblica, a ponto de o Novo Testamento parecer “quase ingênuo quando descreve onze apóstolos e apenas um Judas”! Ela continua pertinente: “A trapaça e a mentira não são os pecados mais dramáticos na Bíblia, mas são dois dos mais importantes. [...] a mentira é, digamos, disponível a todo momento.” Diz mais: “Durante a Reforma, como demonstra Tawney [...] as virtudes prudentes da poupança e da operosidade foram valorizadas e se tornaram muito mais importantes do que haviam sido na Europa medieval.” Halsey lembra: “A preocupação de juntar dinheiro, antes um pecado da usura, se tornou coisa respeitável; e as noções de mortificação da carne dos primeiros cristãos foram abandonadas em favor do novo conceito de que ganhar dinheiro era agora virtude.” Após a influência de Freud e de Darwin, o respeito para com o sagrado foi minimizado, pois “já não há mais a imagem do Deus barbado para punir o mau comportamento.”

Quando entro no templo para cultuar, percebo as ideias de Halsey presentes em incontáveis e até inconscientes mentiras rituais. O catolicismo, há séculos, camaleonicamente sobrevive. Há lugar para todos debaixo do imenso guarda-chuva de Roma, que abriga até os oponentes. Os mais piedosos católicos certamente se assustam com os caminhos que o catolicismo escolheu para se adequar à civilização pós-guerra... O protestantismo histórico tem optado enfrentar a atual crise do esvaziamento dos templos, com adaptações que oferecem conforto material aos fieis – bem diferente das propostas de submeter-se à Soberania Divina, ensinadas por Lutero e Calvino... Os Batistas se fragmentaram em tantos “sobrenomes”, utilizando um misto de rituais, que se tornariam irreconhecíveis diante dos mártires pioneiros... Muitos pentecostais (também fragmentados) resolveram seguir pela via da política partidária como meio de dar poder às igrejas... E os pós-pentecostais (ou neopentecostais) enveredaram velozmente na relatividade ética, cultuando a satisfação imediata das necessidades físicas e emocionais dos seus seguidores por meio de um deus ex machina que é acionado para solucionar o problema do enredo da vida humana na Terra.

Halsey define as mentiras rituais justamente como esses “conceitos errôneos ou rigorosamente falsos que o establishment comanda e usufrui [...] erige verdades definitivas [...] de acordo com suas conveniências.” Particularmente na Igreja cristã, essas mentiras rituais têm agido como um néctar infernal, nutrindo lideranças religiosas cujo objetivo principal é o enriquecimento fácil e rápido. Para alcançarem seus alvos, eles cauterizam a consciência, fazendo valer suas “novas” verdades – o vale tudo. Dizem que vale pinçar um texto bíblico e dele elaborar uma mensagem que iluda os fieis a depositarem seus salários no altar: a isto chamam de prova de fé em Deus. Dizem que vale usar os recursos da Igreja em benefício pessoal, seja na compra de um sapato, um carro novo, casa, sítio, lancha ou avião: a isto chamam de bênçãos divinas. Dizem que vale ouvir as confidências segredadas (muitas delas em meio a lágrimas) e depois usar tal conhecimento para exercer poder e intimidar o confessante: a isto chamam de cuidado pastoral. Dizem que vale usar a profissão secular (médico, advogado, militar, servidor público, etc.) para atender aos membros da Igreja, cultivando uma contínua e maldita relação de dependência para com os que não podem pagar uma consulta ou contratar o profissional: a isto chamam de amor ao próximo. Dizem que vale usar quaisquer rituais para atrair um número maior de frequentadores dos cultos, para que o negócio-igreja renda milhões: a isto chamam de evangelização. Dizem que vale elevar à categoria de pastor (e pastora) quem se comprometer com os interesses dos donos da igreja local e dos caciques denominacionais, independentemente se a pessoa de fato é vocacionada por Deus e possui conhecimentos e preparo teológicos para exercer o pastorado: a isto chamam de unção divina. Dizem que vale transformar a igreja num clube confortável e seguro, onde cada sócio receba sua cota de “elevação espiritual” nos cultos que agradam as pessoas, onde o que importa é a mansão celestial, onde as doenças e todos os problemas são rejeitados, onde mora o deus obediente aos humanos, onde se lê, canta e toca para agradar o gosto pessoal: a isto chamam de adoração a Deus. Dizem que vale experimentar todas as idiossincrasias e ideias e técnicas mirabolantes extra-bíblicas para fazerem a igreja “crescer”: a isto chamam de revelação divina. E ainda dizem que toda essa negação da proposta bíblica cristã e negação do caminhar histórico – quando milhões de cristãos foram sacrificadas por amor e prática do verdadeiro cristianismo – pode ser substituída por um amontoado de mentiras rituais: e a isto chamam de a Igreja de Jesus para o século XXI.

Quando saio do templo, depois do culto, já não sei se estive numa igreja cristã. E nutro uma profunda preocupação: Que Igreja meus netos frequentarão?... Na Europa, templos fecharam as portas. Na outra América, igrejas se assemelham a clubes. No Leste Europeu, depois de 70 anos de comunismo, dentro das igrejas há uma imensa distância entre a perseguição sofrida no passado em nome da fé e a nova ordem econômica capitalista – e isto afasta as novas gerações dos templos. E em nosso país, registra-se uma imensa ausência de vocacionados, tornando vazias as salas de aulas de Teologia. Para que estudar tanto, se para ser pastor basta falar alto algumas palavras de comando, ter o jeito de gesticular apropriado, afirmar que o cristão é “mais que vencedor”, que no céu nos aguarda um grande galardão, e remeter a porcentagem mensal para o dono da denominação! Para que adorar a Deus, se o que interessa é tocar, cantar e vender o novo CD gospel que está fazendo sucesso, inclusive nas novelas globais! Para que realizar a Escola Bíblica, se quanto menos o povo souber de Deus, melhor para os líderes! Para que reverência nos cultos, se o templo se parece com a casa de cada membro, onde todos se sentem à vontade, conversando lorotas, adorando seus próprios ventres! E tenho ouvido alguns colegas segredarem que estão a um passo de desistirem de continuar sendo pastor “à moda antiga”, diante do sofrimento causado pelo assédio moral ascendente cometido por alguns donos de igrejas...

Será que a atual realidade dará ponto final ao ideal bíblico proposto para a Igreja? Não haverá uma nova geração de vocacionados? A egolatria vencerá a Teologia? Halsey conclui o livro afirmando que “existe uma correlação mais íntima entre o ideal e o real do que é correntemente comum ao nosso conhecimento. Esta correlação consiste na praticabilidade quintessencial dos ideais.” Então, há uma esperança! Ainda dá tempo de os fieis se unirem à parte mais pura do todo... Inundados pela maravilhosa Graça... Pagando o alto preço de praticarem a simplicidade do Mestre de Nazaré. Então valerá a pena ter sido cristão.

(*) Jornalista, professor de ensino superior e pastor batista.

PRESIDENTA DILMA ANTECIPA O LANÇAMENTO DO PLANO DE COMBATE À HOMOFOBIA PARA AGOSTO

Por Thonny Hawany

Já não era sem tempo. A presidenta Dilma Roussef volveu os olhos para a comunidade LGBT e determinou que a Secretaria dos Direitos Humanos da Presidência da República lançasse o segundo Plano Nacional de Promoção da Cidadania e Direitos Humanos de Lésbicas, de Gays, de Bissexuais, de Travestis e de Transexuais. Esperamos agora que não haja nenhuma intervenção dos fundamentalistas religiosos.

Segundo dados do próprio governo e da sociedade organizada, o lançamento estava previsto para o mês de dezembro de 2012, no entanto, o governo resolveu antecipá-lo para o início da segunda metade do ano. Conforme se sabe, essa segunda edição do plano deverá ter como foco principal o combate à homofobia. A senhora ministra Maria do rosário deverá apresentar o projeto à presidenta no início do mês de julho para informar todos os dados, especialmente, os custos, as ações e os papéis dos dezoito ministérios que figurarão como parte no projeto. Esperamos que o Plano de Combate à Homofobia – PCH – seja algo impactante.


Cabe salientar que a primeira versão do plano foi lançada em 2009, por ocasião do governo do presidente Lula e visava dar continuidade ao Programa Brasil sem Homofobia, executado em 2004. De lá para cá muita coisa aconteceu, esperamos que as ações também venham ao encontro das mudanças e das necessidades da população LGBT. Que o PCH venha para atacar pontos críticos como erradicar os crimes bárbaros de homossexuais em território brasileiro.


O que queremos é igualdade, é liberdade de expressão, é respeito à nossa dignidade. O direito de nos casar, de constituir família, de poder adotar filhos, de vivermos dignamente constitui a base de nossa luta. Esperamos que o governo da presidenta Dilma Roussef nos dê mostras de um trabalho sério em favor dos direitos humanos de lésbicas, de gays, de bissexuais, de travestis e de transexuais. Que essa não seja mais uma manobra política!


Fontes: A Capa e Somos

domingo, 17 de junho de 2012

PENTÁGONO RECONHECE O VALOR DE LÉSBICAS E GAYS NAS FORÇAS ARMADAS DOS EUA

Por Thonny Hawany

Não é de hoje que os Estados Unidos da América vêm dando sinal de sua mudança com relação às políticas públicas direcionadas a lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais. Para comemorar o mês do orgulho gay, o secretário da defesa dos EUA, Leon Penetta, agradeceu às lésbicas e aos gays pelo trabalho prestado ao exército americano. Como afirmou “O Globo”, essa foi uma “homenagem inédita.

Para Penetta, com o fim da política “Don’t ask, don’t tell” (não pergunte, não conte), as lésbicas e os gays devem ter orgulho de usar sua farda, de servir o seu país e de ser quem são. Segundo o ministro, sua meta é acabar com as barreiras para tornar o exército dos EUA um exemplo de respeito à igualdade. Não se conquista direitos sem trabalho prestado. É importante a luta por direitos, mas é também importante o trabalho e o reconhecimento do valor que temos nós gays, lésbicas, bissexuais e transexuais para a sociedade.

Com a política do “Don’t ask, don’t tell”, desde 1993, mais de 13.500 homossexuais foram expulsos das forças armadas dos EUA por serem gays ou lésbicas. Essas mudanças na maneira de pensar de um dos mais importantes países do mundo são relevantes para a política LGBT mundial, visto que outros países, certamente, seguirão o exemplo positivo de reconhecer o potencial de lésbicas e gays em servir seu país.

Assim sendo, os Estados Unidos merecem todo o nosso respeito pelo tratamento igualitário que vêm dando à comunidade LGBT. Esperamos que outros países mirem invejosamente para a atitude do Pentágono. Que o Brasil não se faça de mudo, surdo e cego para as mudanças.

Fonte: O Globo

sábado, 16 de junho de 2012

LIBERTY E NOITE DO SIGILO GLS

Por Thonny Hawany

A cidade de Cacoal, em decorrência de um movimento LGBT sério e seguro, tem se tornado um lugar amistoso e convidativo para lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais. Depois da realização da primeira Cacoal Rainbow Fest, em novembro de 2006, a comunidade tem investido em eventos de natureza festiva a fim de proporcionar momentos agradáveis e intimistas aos LGBT de Cacoal e regiões circunvizinhas. Vem aí duas festa que prometem fazer história e mudar a cara do turismo cacoalense.

No dia 30 de junho de 2012, será realizada na Avenida Castelo Branco, 19920, ao lado do posto de gasolina 2000/2, a festa “A Noite do Sigilo GLS pelos promotors Marco Aurélio e Rock Fabrini. Na oportunidade, a transex Mikaela Cândida será a grande homenageada da noite em virtude de sua militância e de seus trabalhos prestados à comunidade LGBT de Rondônia.

No dia 07 de julho de 2012, os promoters Guta de Matos, Mateus e Sergio deverão receber os LGBT de toda a região para a primeira festa do trio. Segundo nos informou Guta, o evento contará com a presença de DJ especializado em festa GLS, de go go boy, de go go girl e de muita gente bonita. A festa será realizada no Clube da Associação Atlética do Banco do Brasil de Cacoal – AABB – e terá início às 22 horas.

Conhecendo o bom gosto de ambos os grupos de promoters, sei que cada um fará o melhor para surpreender o público da região no tocante aos números de artistas e à qualidade do evento em si. Recomendo as duas festas e também o resort Cacoal Selva Park, os hotéis Catuaí e Acaí e os restaurantes Beagá, Toldus e Costelão. Cacoal é uma cidade maravilhosa para se viver e para fazer turismo.
Aproveitem! Usufruam de tudo o que a nossa cidade tem de melhor. Os cacoalenses são hospitaleiros e primam pelo respeito à diversidade como meta de boa convivência.
O Blog Thonny Hawany estará presente nos dois eventos para fazer a cobertura.


AVANTE MOVIMENTO LGBT DE CACOAL

Por Thonny Hawany

Há mais ou menos seis anos, eu inaugurava o movimento LGBT em Cacoal, quando criei o Grupo Arco-Íris de Rondônia juntamente com amigos muito queridos, a exemplo de André Guedes, Guta de Matos, Jordana Ferreira, Mikaela Cândida, Adriano Souza, Givagno, Nil Fernandes, Danilo Torres e Marco Aurélio.

A Cacoal Rainbow Fest realizada no último sábado do mês de novembro de 2006 foi o marco de tudo o que se entende por movimento LGBT em Cacoal e cidades circunvizinhas. De lá para cá, muitas coisas mudaram para melhor. Fomos chamados em audiências públicas na Câmara Municipal para defender a importância da aprovação do PLC 122, projeto de lei que visa criminalizar a homofobia no Brasil, passamos a fazer parte dos Conselhos Municipais de Saúde e da Juventude, levamos militantes para encontros, conferências e congressos por todo o país para aprenderem e se conscientizarem da importância de militar em favor da igualdade, da liberdade e da dignidade da pessoa humana com ênfase para a pessoa LGBT.

Portas se abriram para a comunidade LGBT de Cacoal. Os poderes públicos passaram a nos notar e a dar importância ao nosso brado por direitos. Neste ano, realizamos o I Encontro Amazônico da Diversidade Sexual, no mês de abril, por ocasião do Dia Internacional Contra a Homofobia, a Lesbofobia e a Transfobia, inaugurando mais uma era em favor da luta por direitos. Cacoal está se tornando uma cidade grande e, com ela, é preciso que seus cidadãos cresçam sem demora. Avante gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais!

As conquistas por direitos trouxeram abertura e liberdade de expressão para toda a comunidade LGBT regional. Nossa voz passou a ser ouvida com seriedade. Nossas opiniões passaram a ser respeitadas e dignificadas. A nossa militância toornou-se segura e caminha por estradas firmes. Não atropelamos uns aos outros e não exigimos da sociedade que nos respeite sem antes dar a ela motivos para nos respeitar. Esse tem sido o nosso segredo de sucesso.

Conclamo a todos os ativistas e militantes LGBT de Cacoal e região para se unirem em torno de um mesmo objetivo. Não podemos nos separar sob pena de perdermos força e, consequentemente, o que já conquistamos ao longo desses, aproximados, seis anos. O Grupo Arco-Íris de Rondônia, GAYRO, é a nossa bandeira de luta. Façamos das cores desse estandarte as nossas metas a serem conquistadas. Avante movimento LGBT de Cacoal, ainda temos muito a conquistar. O tempo urge e não espera os que vacilam e que tardam a entender que sem união chegaremos tardiamente a um futuro de glórias, de respeito, de liberdade e de dignidade.