sexta-feira, 28 de novembro de 2014

OXAGUIÃ

Exê êêê!

Oxaguiã era o filho de Oxalufã. Ele nasceu em Ifé, bem antes de seu pai tonarar-se o rei de Ifan. Oxaguiã, valente guerreiro, desejou, por sua vez, conquistar um reino. Partiu, acompanhado de seu amigo Awoledjê.

Oxaguiã não tinha ainda este nome. Chegou num lugar chamado Ejigbô e aí tomou-se Elejigbô - "Rei de Ejigbô". Oxaguiã tinha uma grande paixão por inhame pilado, comida que os iorubas chamam de iyan.

Elejigbô comia deste iyan a todo momento; comia de manhã, ao meio-dia e depois da sesta; comia no jantar e, até mesmo, durante a noite, se sentisse vazio seu estômago!

Ele recusava qualquer outra comida, era sempre iyan que devia ser-lhe servido. Chegou ao ponto de inventar o pilão, para que fosse preparado seu prato predileto! Impressionados pela sua mania, os outros orixás deram-lhe um apelido: Oxaguiã, que significa "Orixá-comedor-de-inhame-pilado", e assim passou a ser chamado.

Awoledjê, seu companheiro, era babalaô, um grande adivinho, que o aconselhava no que devia ou não fazer. Certa ocasião, Awoledjê aconselhou Oxaguiã a oferecer: dois ratos de tamanho médio; dois peixes, que nadassem majestosamente; duas galinhas, cujos fígados fosses bem grandes; duas cabras, cujo leite fosse abundante; duas cestas de caramujos e muitos panos brancos.

Disse-lhe, ainda, que se ele seguisse seus conselhos, Ejigbô, que era então um pequeno vilarejo dentro da floresta, tomar-se-ia, muito em breve, uma cidade grande e poderosa e povoada de muitos habitantes.

Depois disto, Awoledjê viajou para outros lugares. Ejigbô tomou-se uma grande cidade, como previra Awoledjê. Ela era cercada de muralhas com fossos profundos, as portas fortificadas e guardas armados vigiavam suas entradas e saídas.

Havia um grande mercado, em frente ao palácio, que atraía, de muito longe, compradores e vendedores de mercadorias e escravos. Elejigbô vivia com pompa entre suas mulheres e seus servidores.

Músicos cantavam seus louvores. Quando falava-se dele, não se usava jamais o seu nome, pois seria falta de respeito. Era a expressão Kabiyesi, isto é, Sua Majestade, que deveria ser empregada.

Ao cabo de alguns anos, Awoledjê voltou. Ele desconhecia ainda o novo esplendor de seu amigo. Chegando diante dos guardas, na entrada do palácio, Awoledjê pediu, com familiaridade, notícias do "Comedor-de-inhame-pilado".

Chocados pela insolência do forasteiro, os guardas gritaram: "Que ultraje falar desta maneira de Kabiyesi! Que impertinência! Que falta de respeito!" E caíram sobre ele dando-lhe pauladas e cruelmente jogaram-no na cadeia.

Awoledjê, mortificado pelos maus tratos, decidiu vingar-se, utilizando sua magia. Durante sete anos a chuva não caiu sobre Ejigbô, as mulheres não tiveram mais filhos e os cavalos do rei não tinham pasto.

Elejigbô, desesperado, consultou um babalaô para remediar esta triste situação. Este respondeu-lhe: "Kabiyesi, toda esta infelicidade é resultado da injusta prisão de um de meus confrades!

É preciso soltá-lo, Kabiyesi! É preciso obter o seu perdão!" Awoledjê foi solto e, cheio de ressentimento, foi-se esconder no fundo da mata. Elejigbô, apesar de rei tão importante, precisou ir suplicar-lhe que esquecesse os maus tratos sofridos e o perdoasse.

"Muito bem! - respondeu-lhe. Eu permito que a chuva volte a cair, Oxaguiã, mas tem uma condição: cada ano, por ocasião da sua festa, será necessário que você envie muita gente à floresta, cortar trezentos feixes de varetas. Os habitantes de Ejigbô, divididos em dois campos, deverão golpear-se, uns aos outros, até que estas varetas estejam gastas ou se quebrem".

Desde então, todo os anos, no fim da seca, os habitantes de dois bairros de Ejigbô, aqueles de Ixalê Oxolô e aqueles de Okê Mapô, batem-se todo um dia, em sinal de contrição, e na esperança de verem, novamente, a chuva cair.

A lembrança deste costume conservou-se através dos tempos e permanece viva também na Bahia. Por ocasião das cerimônias em louvor de Oxaguiã, as pessoas batem-se umas nas outras, com leves golpes de vareta ... e recebem, em seguida, uma porção de inhame pilado, enquanto Oxaguiã vem dançar com energia, trazendo uma mão de pilão, símbolo das preferências gastronômicas do orixá "Comedor-de-inhame-pilado".

Exê ê! Baba Exê ê!

FONTE DO TEXTO: VERGER, Pierre Fatumbi. Lendas africanas dos orixás. 4.ed. Salvador: Corrupio, 1997.

FONTE DA IMAGEM: http://www.vibeflog.com/adriano67/p/23467226 

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

DISPUTA ENTRE NANÃ BURUKU E OGUM

Nanã Buruku é uma velhíssima divindade das águas, vinda de muito longe e há muito tempo. Ogum é um poderoso chefe guerreiro que anda sempre à frente dos outros Imalés. Um dia, eles vão a uma reunião. É a reunião dos duzentos Imalés da direita e dos quatrocentos Imalés da esquerda.

Eles discutem sobre os seus poderes. Eles falam muito sobre Obatalá, aquele que criou os seres humanos. Eles falam sobre Orunmilá, o senhor do destino dos homens. Eles falam sobre Exu: "Ah! É um importante mensageiro!"

Eles falam muita coisa a respeito de Ogum. Ele dizem: "É graças a seus instrumentos que nós podemos viver. Declaramos que é o mais importante entre nós!" Nanã Buruku contesta, então: "Não digam isto. Que importância tem, então, os trabalhos que ele realiza?"

Os demais orixás respondem: "É graças a seus instrumentos que trabalhamos pelo nosso alimento. É graças a seus instrumentos que cultivamos os campos.
São eles que utilizamos para esquartejar os animais".

Nanã conclui que não renderá homenagem a Ogum. "Por que não haverá um outro lmalé mais importante?" Ogum diz: "Ah! Ah! Considerando que todos os outros lmalés me rendem homenagem, me parece justo, Nanã, que você também o faça".

Nanã responde que não reconhece sua superioridade. Ambos discutem por muito tempo. Ogum perguntando: "Você pretende que eu seja dispensável?" Nanã garantindo que isto ela podia afirmar dez vezes. Ogum diz então: "Muito bem! Você vai saber que sou indispensável para todas as coisas."

Nanã, por sua vez, declara que, a partir daquele dia, ela não utilizará, absolutamente nada, fabricado por Ogum e, ainda assim, poderá tudo realizar.

Ogum questiona: "Como você o fará? Você não sabe que sou o proprietário de todos os metais? Estanho, chumbo, ferro, cobre. Eu os possuo todos."

Os filhos de Nanã eram caçadores. Para matar um animal, eles passaram a se servir de um pedaço de pau, afiado em forma de faca, para esquartejá-lo.

Os animais oferecidos a Nanã são mortos e decepados com instrumentos de madeira. Não se pode utilizar faca de metal para cortar sua carne, por causa da disputa que, desde aquele dia, opôs Ogum a Nanã.

FONTE DO TEXTO: VERGER,  Pierre Fatumbi. Lendas africanas dos orixás. 4.ed. Salvador: Corrupio, 1997.

FONTE DA IMAGEM: http://omidewa.com.br/public_html/arquivos/1183

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

OBALUAÊ

Atotô!

Xapanã nasceu em Empê, no território Tapá, também chamado Nupê. Era um guerreiro terrível que, seguido de suas tropas, percorria o céu e os quatro cantos do mundo. Ele massacrava sem piedade aqueles que se opunham à sua passagem. Seus inimigos saíam dos combates mutilados ou morriam de peste. Assim, chegou Xapanã em território Mahi, no Daomé. A terra dos mahis abrangia as cidades de Savalú e Dassa Zumê.

Quando souberam da chegada iminente de Xapanã, os habitantes desta região, apavorados, consultaram um adivinho. E assim ele falou: "Ah! O grande Guerreiro chegou de Empê! Aquele que se tornará o senhor do país! Aquele que tornará esta terra rica e próspera, chegou! Se o povo não aceitá-lo, ele o destruirá! É necessário que supliquem a Xapanã que vos poupe. Façam-lhe muitas oferendas; todas as que ele goste: inhame pilado, feijão, farinha de milho, azeite de dendê, picadinho de carne de bode e muita, muita pipoca! Será necessário, também, que todos se curvem diante dele, que o respeitem e o sirvam. Desde que o povo o reconheça como pai, Xapanã não o combaterá, mas protegerá a todos!"

Quando Xapanã chegou, conduzindo seus ferozes guerreiros, os habitantes de Savalú e Dassa Zumê reverenciaram-no, encostando suas testas no chão, e saudaram-no: Totô hum! Totô hum! Atotô! Atotô! "Respeito e submissão!"

Xapanã aceitou os presentes e as homenagens, dizendo: "Está bem! Eu os pouparei! Durante minhas viagens, desde Empê, minha terra natal, sempre encontrei desconfiança e hostilidade. Construam para mim um palácio. É aqui que viverei a partir de agora!"

Xapanã instalou-se assim entre os mahis. O país prosperou e enriqueceu, " e o Grande Guerreiro não voltou mais a Empê, no território Tapá, também hamado Nupê.

Xapanã é considerado o deus da varíola e das doenças contagiosas. Ele tem, também, o poder de curar. As doenças contagiosas são, na realidade, punições aplicadas àqueles que o ofenderam ou conduziram-se mal.

Seu verdadeiro nome, é perigoso demais pronunciar. Por prudência, é preferível chamá-lo Obaluaê, o "Rei, Senhor da Terra" ou Omulú, o "Filho do Senhor".

Quando Xapanã instalou-se entre o mahis, recebeu, em uma nova terra, o nome de Sapatá. Aí, também, era preferível chamá-lo Ainon, o "Senhor da Terra", ou, então, Jeholú, o "Senhor das Pérolas".

O fato de ser chamado Jeholú e Ainon causou mal-entendidos entre Sapatá e os reis do Daomé, pois eles também usavam estes títulos. Enciumados, os Jeholú de Abomey expulsaram, várias vezes, Jeholú Ainon do Daomé e obrigaram-no a voltar, transitoriamente, à terra dos mahis. Jeholú Ainon vingou-se: vários reis daomeanos morreram de varíola!

Atotô!

FONTE DO TEXTO: VERGER,  Pierre Fatumbi. Lendas africanas dos orixás. 4.ed. Salvador: Corrupio, 1997.

FONTE DA IMAGEM: http://www.ceuue.com.br/arquivo/inspiracao_0408.html

terça-feira, 25 de novembro de 2014

OXUMARÊ

A run boboi

Oxumaré era, antigamente, um adivinho (babalaô). O adivinho do rei Oni. Sua única ocupação era ir ao palácio real no "dia do segredo"; dia que dá início à semana de quatro dias dos iorubas.

O rei Oni não era um rei generoso. Ele dava apenas, a cada semana, uma quantia irrisória a Oxumaré que, por esta razão, vivia na miséria com a sua família.

O pai de Oxumaré tinha um belo apelido. Chamavam-no "o proprietário do xale de cores brilhantes". Mas, tal como seu filho, ele não tinha poder.

As pessoas da cidade não o respeitavam. Oxumaré, magoado com esta triste situação, consultou Ifá. "Como tornar-se rico, respeitado, conhecido e admirado por todos?"

Ifá o aconselhou a fazer oferendas. Disse-lhe que oferecesse uma faca de bronze, quatro pombos e quatro sacos de búzios da costa.

No momento que Oxumaré fazia estas oferendas, o rei mandou chamá-lo. Oxumaré respondeu: "Pois não, chegarei tão logo tenha terminado a cerimônia".

O rei, irritado pela espera, humilhou Oxumaré, recriminou-o e negligenciou, até, a remessa de seus pagamentos habituais.

Entretanto, voltando à sua casa, Oxumaré recebeu um recado: Olokum, a rainha de um país vizinho, desejava consultá-lo a respeito de seu filho, que estava doente.

Ele não podia manter-se de pé, caía, rolava no chão e queimava-se nas cinzas do fogareiro. Oxumaré dirigiu-se à corte da rainha Olokum e consultou Ifá para ela.

Todas as doenças da criança foram curadas. Olokum, encantada com este resultado, recompensou Oxumaré. Ela lhe ofereceu uma roupa azul, feita de um rico tecido.

Ela lhe deu muitas riquezas, servidores e um cavalo, com o qual Oxumaré retomou à sua casa, em grande estilo.

Um escravo fazia rodopiar um guarda-sol sobre a sua cabeça e músicos cantavam seus louvores. Oxumaré foi saudar o rei.

O rei Oni ficou surpreso e disse-lhe: "Oh! De onde vieste? De onde saíram todas estas riquezas?" Oxumaré respondeu-lhe que a rainha Olokum o havia consultado. "Ah! Foi então Olokum que fez tudo isto por você!"

Estimulado pela rivalidade, o rei Oni ofereceu a Oxumaré uma roupa do mais belo vermelho, acompanhada de muitos outros presentes. Assim, Oxumaré tomou-se rico e respeitado.

Entretanto, Oxumaré não era amigo de Chuva. Quando Chuva reunia a nuvens, Oxumaré agitava sua faca de bronze e a apontava em direção ao céu, como se riscasse de um lado a outro.

O arco-íris aparecia e Chuva fugia. todos gritavam: "Oxumaré apareceu!" Oxumaré tomou-se muito célebre.

Naquela época, Olodumaré, o deus supremo, aquele que estende a esteira real em casa e caminha na chuva, começou a sofrer da vista e nada mais nxergava.

Ele mandou chamar Oxumaré e o mal dos seus olhos foram curados. Depois disto, Olodumaré não deixou mais que Oxumaré retomasse à Terra.

Desde aquele dia, é no céu que ele mora e só tem permissão de visitar a Terra a cada três anos. É durante estes ano que a pessoas tornam-se ricas e prósperas.

FONTE DO TEXTO: VERGER,  Pierre Fatumbi. Lendas africanas dos orixás. 4.ed. Salvador: Corrupio, 1997.
FONTE DA IMAGEM: http://yemanjaogunte.no.comunidades

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

COMO OLOKUM TORNOU-SE A RAINHA DAS ÁGUAS

Olokum, senhora das águas, consulta Ifá, numa época em que suas águas não eram bastantes para que alguém nelas se lavasse o rosto. Se alguém recolhesse água em eu leito, recolheria, também, areia. Porque ela estava pobre de água.

Olossá, senhora da lagoa, consulta Ifá, numa época em que suas águas não eram bastantes para que alguém nelas se lavasse os pés. Se alguém quisesse, com elas, lavar os pés, sujar-se-ia de lama e areia. Pois havia na lagoa muito pouca água.

Olokum e Olossá foram, ambas, aos pés de Orunmilá rogar-lhe examinar o seu caso. Poderiam elas tornar-se as maiores do mundo? Orunmilá respondeu que se elas pudessem fazer as oferendas que ele escolhera para elas, suas vidas seriam um sucesso.

Ele disse que Olokum deveria oferecer duzentas cobertas pretas, duzentas cobertas brancas, um carneiro e vinte e seis mil búzios da costa. Depois, ele recomendou à Olossá fazer o mesmo.

Olokum fez as oferendas. Ela empregou tudo o que possuía. Ela chegou a empregar-se como serva, para completar as oferendas. Olossá fez também as oferendas com tudo o que possuía. Mas suas oferendas não foram completas, porque ela não encontrou onde se empregar.

Oxum, o rio, elegante senhora do pente de coral, consultou Ifá no dia em que ia conduzir todos os rios. Os rios não sabiam em que direção seguir. Eles correriam para frente ou para trás! E haviam pedido conselho a Oxum. Ifá respondeu: "Tu, Oxum, vais a certo lugar e, neste lugar, serás muito bem recebida.

Os outros rios te seguirão. Nenhum outro poderá te preceder em qualquer lugar onde estejas presente." Oxum reuniu todos os rios. E os rios seguiram todos juntos. Quando chegaram à beira da lagoa (osa), eles a cobriram completamente. Quando deixaram a lagoa, eles cobriram completamente o mar (okun).

Colocou-se, então, a questão de saber quem seria a rainha das águas. Olokum declarou: "O território onde vocês se encontram é meu". Eles discutiam aqui e ali. Olodumaré manifestou-se a respeito: "A que possui o território é a rainha".

Olokum foi, por direito, a rainha. Olossá ordenou aos rios que se retirassem das suas terras. Mas, os rios não encontraram saída por onde passar. Assim, Olossá foi eleita segunda pessoa de Olokum. A cada ano, todos os rios vêm adorá-la. Foi assim que Olokum e Olossá tomaram-e populares na Terra e famosas no mundo dos deuses.

FONTE DO TEXTO: VERGER, Pierre Fatumbi. Lendas africanas dos orixás. 4.ed. Salvador: Corrupio, 1997.
FONTE DA IMAGEM: http://www.religiaoindigenaioruba.com/divindades-cultuadas-em-nossa-egbe/olokun/


quarta-feira, 19 de novembro de 2014

IEMANJÁ

Odô Iyâ Yemanjá Ataramagbá, ajejê  lodõ, ajejê nilê!

Iemanjá era a filha de Olokum, a deusa do mar. Em Ifé, ela tornou-se a esposa de Olofin-Odudua, com o qual teve dez filhos. Estas crianças receberam nomes simbólicos e todos tomaram-se orixás. Um deles foi chamado Oxumaré, o Arco-Íris, "aquele-que-se-desloca-com-a-chuva-e-revela-seus-segredos".

De tanto amamentar seus filhos, os seios de Iemanjá tornaram-se imensos. Cansada da sua estadia em Ifé, Iemanjá fugiu na direção do "entardecer-da-terra", como os iorubas designam o Oeste, chegando a Abeokutá.

Ao norte de Abeokutá, vivia Okere, rei de Xaki. Iemanjá continuava muito bonita. Okere desejou-a e propôs-lhe casamento. Iemanjá aceitou mas, impondo uma condição, disse-lhe: "Jamais você ridicularizará da imensidão dos meu seios."

Okere, gentil e polido, tratava Iemanjá com consideração e respeito. Mas, um dia, ele bebeu vinho de palma em excesso. Voltou para casa bêbado e titubeante. Ele não sabia mais o que fazia. Ele não sabia mais o que dizia. Tropeçando em Iemanjá, esta chamou-o de bêbado e imprestável. Okere, vexado, gritou: "Você, com seus seios compridos e balançantes! Você, com seus seios grandes e trêmulos!" Iemanjá, ofendida, fugiu em disparada.

Certa vez, antes do seu primeiro casamento, Iemanjá recebera de sua mãe, Olokum, uma garrafa contendo uma poção mágica pois, dissera-lhe esta: "Nunca se sabe o que pode acontecer amanhã. Em caso de necessidade, quebre a garrafa, jogando-a no chão." Em sua fuga, Iemanjá tropeçou e caiu. A garrafa quebrou-se e dela nasceu um rio. As águas tumultuadas deste rio levaram Iemanjá em direção ao oceano, residência de sua mãe Olokum.

Okere, contrariado, queria impedir a fuga de sua mulher. Querendo barrar-lhe o caminho, ele transformou-se numa colina, chamada, ainda hoje, Okere, e colocou-se no seu caminho.

Iemanjá quis passar pela direita, Okere deslocou-se para a direita. Iemanjá quis passar pela esquerda, Okere deslocou-se para a esquerda. Iemanjá, vendo assim bloqueado seu caminho para a casa materna, chamou Xangô, o mais poderoso dos seus filhos.

Kawo Kabiyesi Sango, Kawo Kabiyesi Obá Kossôl " Saudemos o Rei Xangô, saudemos o Rei de Kossô!" Xangô veio com dignidade e seguro do seu poder. Ele pediu uma oferenda de um carneiro e quatro galos, um prato de "amalá", preparado com farinha de inhame, e um prato de "gbeguiri", feito com feijão e cebola. E declarou que, no dia seguinte, Iemanjá encontraria por onde passar.

Nesse dia, Xangô desfez todos os nós que prendiam as amarras da chuva. Começaram a aparecer nuvens dos lados da manhã e da tarde do dia. Começaram a aparecer nuvens da direita e da esquerda do dia. Quando todas elas estavam reunidas, chegou Xangô com seu raio. Ouviu-se então: Kakara rá rá rá ... Ele havia lançado seu raio sobre a colina Okere. Ela abriu-se em duas e, suichchchch ...

Iemanjá foi-se para o mar de sua mãe Olokum. Aí ficou e recusa-se, desde então, a voltar em terra. Seus filhos chamam-na e saúdam-na: ”Odo Iyá, a Mãe do rio, ela não volta mais. Iemanjá, a rainha das águas, que usa roupas cobertas de pérolas."

Ela tem filhos no mundo inteiro. Iemanjá está em todo lugar onde o mar vem bater-se com suas ondas espumantes. Seus filhos fazem oferendas para acalmá-Ia e agradá-la. Odô Iyá, Yemanjá, Ataramagbá Ajejê lodôl Ajejê nilêl "Mãe das águas, Iemanjá, que estendeu-se ao longe na amplidão. Paz nas águas! Paz na casa!"

FONTE DO TEXTO: VERGER, Pierre Fatumbi. Lendas africanas dos orixás. 4.ed. Salvador: Corrupio, 1997.
FONTE DA IMAGEM: https://paulicasantos.wordpress.com/category/uncategorized/page/3/


terça-feira, 18 de novembro de 2014

O TRAJE NA ORGANIZAÇÃO EMPRESARIAL: UM MODELO DE COMUNICAÇÃO

Thonny Hawany[1]

FONTE: http://uniformecamisetas.com.br/
Resumo: O presente artigo apresentará a importância que tem o traje para o desenvolvimento da empresa. Discutirá as diversas maneiras utilizadas na escolha de tecidos, cores, entre outros para se chegar ao modelo ideal, a fim de agradar aos clientes internos e externos da corporação. Tratará também das questões neurolinguísticas que podem estar envolvidas na relação empresa/cliente, fator que deverá ser observado de perto pelos gestores, a fim de evitar entraves na realização dos principais objetivos de uma empresa, promovendo a satisfação do cliente e o lucro.

Abstract: This article will present the importance that the clothes have to the company development. It will discuss the several ways that the cloth, the colour and other details are chosen in order to make the internal and external costumers satisfied. It will also deal with the neurolinguistics questions which may be involved, fact that must be observed closely by the managers, in order to avoid any problem in the realization of the main objectives of a company, the costumer’s satisfaction and the profit.

Palavras-chave: traje, comunicação, modelo, imagem, marketing, empresas, administração, colaborador[2], cliente, executivo, resultados, lucros.

Key words: clothe, communication, model, image, marketing, company, management, functionary, costumer, executive, results, profit.

As empresas devem primar pela boa imagem, seja ela de qual natureza for. O processo de comunicação administrativa tem sido muito discutido nas academias e cursos que visam à formação do profissional de ciências empresariais. Tratar, na íntegra, deste assunto, até que seja totalmente esgotado, requer escrever um tratado, dada a sua extensão. Neste artigo, procuraremos restringir-nos a versar, tão somente, sobre a importância do traje nas corporações.

Quando empregamos o vocábulo traje, não estamos nos referindo somente ao uniforme, pois incumbe-se em erro aquele que assim se comporta. Acreditar que estão ficando no passado essas discussões sobre a importância do traje nas empresas é fechar-se para as mudanças que vêm sendo operadas no campo dos investimentos pela boa imagem das corporações. No mundo globalizado em que vivemos, sair-se-á melhor aquele que vencer no jogo da competitividade. E, em se tratando de jogo, os mínimos detalhes deverão ser considerados importantes para se ganhar a partida e, consequentemente, sagrar-se vitorioso. O traje, para nós, é um detalhe de crucial importância na comunicação visual, é peça importante no grande “tabuleiro” das organizações.

Quando um cliente procura uma empresa, ele quer levar além do produto e/ou serviço que veio comprar, quer também uma dosagem de boa impressão ao entrar num ambiente confortável e arejado, quer interagir com pessoas simpáticas e alegres, quer ver cores e modelos de trajes agradáveis, quer, por fim, além de tudo e aquém de nada mais, ser supra-bem-atendido.
O traje de uma empresa, seja ele dos setores executivos, seja administrativos, seja dos setores de produção, não pode ser escolhido aleatória e arbitrariamente, necessário se faz seguir alguns conceitos básicos que doravante passaremos a discutir.

Em primeiro lugar, é preciso levar em conta o gosto da maioria, pois a simples imposição de cor e modelo pode influenciar positiva ou negativamente no estado emocional do colaborador e, consequentemente, levá-lo a produzir mais, ou menos, conforme for a influência do vestuário no seu estado de espírito. Neste caso, recomendamos que seja feita, antes da adoção do traje, uma longa e vasta pesquisa acerca dos gostos que tem cada funcionário quanto às cores e modelos que gostam de vestir, é importante fazer reuniões com o intuito de esclarecer por que se deve adotar um determinado tipo de traje e que benefício isso trará para a empresa. Deve-se, também, mostrar ao colaborador as vantagens que ele terá ao adotar a “roupa” da empresa para si. Uma empresa bem representada visualmente, em tese, garante bons clientes que, satisfeitos, gerarão lucros, fato que pode refletir no ganho dos funcionários e ainda na melhoria do modo de vida de suas famílias.

Nas corporações, a palavra traje não pode ser confundida com o termo uniforme. Uniformizar é fazer com que todos os funcionários vistam um único modelo, contendo cores idênticas, a exemplo dos macacões dos garis. Trajar é vestir-se de acordo com um modelo padrão, todavia com “certa liberdade” para combinar as peças do vestuário, a exemplo dos executivos do alto escalão de uma empresa que se vestem socialmente, mas cada um usando cores, modelos e marcas diferentes de ternos, camisas, gravatas, sapatos e meias.
Em segunda ordem, precisamos discutir a influência geoclimática na escolha do traje. Há regiões frias que permitem vestir roupas mais fechadas, com cores mais fortes e feitas de tecidos quentes. Nas regiões, cuja temperatura é alta, o traje, composto de muitas peças e feito de tecido grosso, pode afetar a produtividade do colaborador, por isso recomendamos adequar o vestuário dos diversos setores da empresa, levando em conta tais influências.

Em terceiro, citamos a escolha das cores como um fator que consideramos preponderante na decisão do traje. As cores estão, quase sempre, relacionadas, culturalmente, com aspectos que podem ser positivos ou negativos, a depender da região em que a empresa esteja assentada, ou seja, elas exercem forte poder mítico que leva à geração de tabus de todas as naturezas.

Para esclarecer a ideia apresentada, passaremos a abordar, em tese, algumas cores e suas relações míticas: o amarelo, em certas regiões, para certas pessoas, está relacionado com doenças como a hepatite, a malária, a febre amarela e outras do gênero, mas também pode ser, para outras regiões e pessoas, a personificação do ouro e da riqueza. Não é raro encontrar a referência feita entre essa cor e alguém de pele empalidecida, mesmo que ela não esteja doente. O preto é, predominantemente, símbolo de luto e lembra, quase sempre, situações funestas, por isso é pouco recomendável na confecção de uniformes. Há, no preto, a falta de luz que contribui para o escurecimento de ambientes, por natureza, pouco iluminados. Lógico que, para os trajes mais formais, o preto é absolutamente recomendável. O branco é, por muitos, visto como representação da paz, da alegria, da prosperidade, da fraternidade, do divino; todavia pode ser pouco funcional para empresas que, em suas linhas de produção, lidam com produtos cuja natureza é poluente e que não possuam uma política de higiene bem definida. O azul personifica estado positivo. Isto se pode constatar pela expressão popular “tudo azul”, que pode ser entendida como afirmação de emocional positivo. O verde está intimamente relacionado com questões ecológicas e com a esperança de boas realizações. O vermelho simboliza o fluxo sanguíneo, a guerra e a paixão. O rosa personifica o feminino e o efeminado.

Devemos lembrar que não estamos, com tal exposição, condenando ou indicando a cor ou modelo de uniforme adequado às empresas. Todas essas questões deverão ser analisadas e ponderadas de acordo com os diversos e variados interesses da corporação. Se uma tonalidade de cor com significação negativa fosse, realmente, símbolo de fracasso, a Empresa de Correios e Telégrafos e o Banco do Brasil não poderiam estar entre as empresas de maior representatividade na atual conjuntura, uma vez que têm a cor amarela como bandeira de marketing.

Entendemos que a empresa deve investir na imagem, propagando símbolos significativos que deverão ser captados pelo cliente e armazenados no subconsciente como imagens positivas acerca de seus produtos e serviços, a exemplo dos açougues, farmácias, hospitais, restaurantes e outros segmentos que tendem instaurar a ideia de higiene e limpeza por meio dos trajes impecavelmente brancos.

Conforme é recomendado:

A aparência de edifícios, jardins, veículos, mobília interior, equipamentos, membros do quadro de pessoal, placas, material impresso e outras indicações visíveis fornecem evidência tangível da qualidade do serviço de uma organização. As empresas de serviço precisam administrar cuidadosamente a evidência física porque esta pode exercer um impacto profundo sobre as impressões dos clientes. (LOVELOCK, 2002, p.23).

“A identidade de uma organização é a forma como ela é vista pelos outros, mas muitas organizações não cuidam dessa imagem.”(HELLER, 2001, p.55). Cuidar da imagem pessoal dos colaboradores, executivos ou não, envolvidos no sistema da empresa, é fazer marketing, por isso as empresas que querem ter sucesso deverão atentar para essas questões que, aparentemente, parecem insignificantes, mas não o são.
Conforme dados da Neurolinguística:3[3]

O canal de comunicação mais acionado por todas as pessoas é, precisamente, este: o visual. Segundo pesquisas desenvolvidas nesse novo campo do conhecimento humano, a palavra, sozinha, representa 7% de nossa capacidade de comunicação; a inflexão de voz, 38%, e a fisiologia – compreendida por postura, gestos, movimentação corpórea, expressão fisionômica etc – 50%.(OLIVEIRA, 2000, p.27).

Ao que afirma Oliveira sobre a fisiologia, gostaríamos de acrescentar a imagem produzida pelo traje. Um executivo, na condução de uma reunião de negócios ou proferindo palestra para empreendedores, não pode deixar de cuidar do seu marketing pessoal, ou seja, aliar a tudo o quanto lhe serve de instrumento de comunicação uma boa dosagem de estética pessoal, a começar pelo traje que deve ser discreto, contudo alinhado e adequado ao contexto.

Não é possível dissociar o assunto em destaque nesta discussão das relações públicas de uma empresa, que devem ser entendidas como o conjunto de estratégias e relacionamentos entre uma corporação e os clientes envolvidos com ela, quer sejam internos, quer sejam externos, conforme Pinto (2001). As relações entre empresa e cliente vão além daquelas produzidas pela linguagem verbal (oral e/ou escrita), ultrapassa a barreira dos gestos produzidos no decorrer da verbalização (signos comuns e consagrados pela opinião pública) e desemboca nos aspectos sensoriais, ou seja, naquilo que se pode perceber por meio dos sentidos: o gustativo, o olfativo, o visual, o auditivo e o tátil.

A boa impressão que se pode causar pelo discurso e pelo conhecimento inquestionável demonstrado no ato de uma abordagem mercadológica pode ser corrompida pela imagem visual perpassada pelo funcionário que, ao usar trajes fora da moda, com cores fortes e destoantes, tira a atenção do cliente do real conteúdo da negociação. E o que a empresa tem a ver com isso? Tudo, pois no momento de uma abordagem funcionário/cliente, ela está personificada na pessoa do colaborador. Veja aí a importância que tem o traje alinhado e contextualizado. O vestuário usado pelo funcionário deve causar e despertar boas sensações no cliente, a fim de deixá-lo à vontade para envolver-se com o objetivo principal da negociação.

No momento de interação empresa/cliente, este poderá estar operando psicologicamente com um dos canais do “sistema representacional”, ou seja: pode estar ligado pelo canal auditivo, visual, tátil, olfativo ou gustativo, sendo os dois últimos menos importantes, mas não descartáveis, a depender da situação e do assunto que se queira enfatizar. Se um cliente é propenso, por natureza psicológica, a operar pelo canal visual, poderá deixar-se influenciar pelo que pode estar vendo, fechando-se, desta forma, parcialmente para as informações que possam receber por meio de qualquer outro canal sensitivo. Neste caso, a escolha de trajes com modelos e cores muito vivas poderá tirar a atenção do cliente.

Da mesma forma que as cores podem auxiliar o indivíduo a criar imagens e a lembrar-se de momentos agradáveis, poderá também criar imagens que lembrarão situações desagradáveis. Muitos podem considerar que a escolha do traje é algo para leigo, mas não é. Trata-se de tarefa para especialista que deverá, ao analisar os colaboradores, levar em conta, como já dissemos anteriormente, além dos gostos individuais e particulares, as fobias.

As fobias consistem basicamente num medo intenso, incontrolável e por vezes insuportável à pessoa que o experimenta, sendo desproporcional em relação aos elementos que o causam. Desta forma, há indivíduos com fobias de altura, escuridão, lugares fechados, lugares abertos, aviões, água, elevadores etc”.(DILTS, 2002, p. 115).

Se podemos admitir as fobias referida, porque não dizer a respeito de fobia a roupas, cores, modelos etc. Esta questão de fobia poderá estar relacionada com o representante da empresa no ato da abordagem ou com o cliente, fato que poderá vir, de uma forma ou de outra, a causar prejuízos ao bom andamento de uma relação de mercado. De acordo com o adágio: “A primeira impressão é a que fica”.

Na composição do modelo visual, a vestimenta assume papel de realce. Não há dúvida sobre o fato de que o traje carrega uma retórica que põe à disposição das pessoas o sonho de mudar de identidade. Por trás de um pequeno detalhe, da cor de uma roupa, do corte, do volume, do tipo de tecido, de um adereço, milhares de pessoas procuram ser reconhecidas como ‘outras’, realizando, de algum modo, o sonho de uma dupla personalidade, que passa a exigir o traje adequado, para o cargo adequado, na empresa adequada. (TORQUATO, 2002, p.31).

Analisando as palavras de Torquato, podemos ver certas implicações que merecem ser dirimidas. Dissemos anteriormente que as questões de escolha e adoção de trajes devem ser da competência de um assessor de comunicação gerencial. O traje não pode ser escolhido ou implantado numa corporação aleatoriamente. Tudo requer planejamento e preparação.

A priori, a adoção do vestuário da empresa deve ser acompanhada de discussão e preparação psicoterápica dos envolvidos, para que não haja distorção entre as imagens produzidas e os resultados almejados. Tal acompanhamento deverá ser feito por profissionais devidamente preparados para as tomadas de decisões na área de comunicação e marketing.

O cliente deverá reconhecer, consciente ou inconscientemente, a mesma personalidade lida e percebida, tanto nas atitudes, quanto na maneira de trajar do funcionário. Nenhuma distorção poderá ser detectada pelo cliente, sob pena de causar prejuízos à negociação mercadológica.

Os trajes não devem ser vistos como camisas de força. A empresa e os colaboradores deverão opinar igualmente sobre a questão, para que haja consenso e não resolução descendente. As sugestões ascendentes são muito importantes dentro de uma corporação, haja vista a necessidade de ouvir o colaborador, para que ele se sinta importante e, com isso, acessível às mudanças e novas implementações.

Quando as pessoas, por meio daquilo que vestem, sentem-se elas próprias, pode haver um ponto bastante positivo, porque tendem a agir de forma mais natural e autêntica, fato que contribui para desentravar canais de comunicação e afastar obstáculos que impedem a aproximação de outrem.

Segundo Torquato, pode se constatar que:

O discurso visual - roupas, adereços, enfeites, cores, formas, detalhes, motivos, materiais, estilo, linhas, conjunto harmônico - traduz um conceito de personalidade. Nas empresas, muitos profissionais ‘forçam a barra’ para ajustar o discurso ao ambiente, mas exageram nos traços. E os exageros tornam sua imagem bem diferente da identidade. Quer dizer, vestem-se de modo incompatível com sua personalidade.(TORQUATO, 2002, p. 32).

 Com isso, é bastante prudente evitar os exageros, para não expor a empresa ao ridículo. Exagerar nos traços é estar, vezes e vezes, fora da moda, portanto fora do padrão aceitável pela sociedade.

Havendo observado todas as indicações e tomado todos os cuidados para a escolha adequada do vestuário, a empresa deverá seguir os seus próprios elementos norteadores, a fim de utilizar a política do traje como um elemento gerador de lucros e dividendos. 

A imagem de uma empresa é construída pela soma de todos os elementos. Estarão fadadas ao insucesso aquelas que não atentarem para esta nova semeadura. A empresa deve interagir com os aspectos sócio-culturais para que aja como engrenagem propulsora das afirmações e aspirações ideológicas da comunidade e de si mesma, fatores que geralmente se dão, imprescindivelmente, de modo dialético. A organização deve oferecer, além dos produtos e serviços de qualidade, a boa imagem. O cliente que compra produtos e serviços de qualidade retribui financeiramente, garantindo resultados satisfatórios para a empresa.

Ainda para reforçar, encontramos respaldo em autores como Lovelock, quando discute sobre o design empresarial, uma nova tendência em aplicar insistentemente cores distintas, símbolos e tipos de letras para conferir a uma empresa uma identidade facilmente reconhecível pelo cliente:

Muitas empresas passaram a considerar a importância de criar uma aparência visual distintiva para todos os elementos tangíveis que contribuem para sua imagem empresarial. As estratégias de design empresarial normalmente são criadas por empresas consultoras externas e incluem dispositivos como papel timbrado e slogan promocional, cartazes, UNIFORMES e esquema de cor para veículos, equipamentos e interiores de edifícios. Estes elementos são criados mediante o uso de cores, símbolos, letras e layout distintivos para fornecer um tema unificador e identificável, veiculando todas as operações da empresa na forma de evidência física da marca.(LOVELOCK, 2002, p. 311, grifo nosso).

Não parece ser difícil relacionar a teoria à prática. Basta lembrarmos que algumas empresas, pelo tipo de uniforme e cores que utilizam, naturalmente seguindo as indicações do design empresaria,l são conhecidas e reconhecidas por pessoas de todos os níveis sócio-culturais. As cores, os símbolos e a relação existente entre eles e as empresas ficam impregnadas no subconsciente das pessoas. Não é possível dissociar marcas mundialmente conhecidas de seus trajes e cores, a exemplo da Coca-Cola e a cor vermelha, da HP e o azul etc.

Em síntese, procuramos aqui apresentar uma discussão em torno de um assunto relevante às corporações, o traje. Não indicamos receitas, modelos, cores nem estilos. Caberá aos assessores de comunicação, de marketing e de recursos humanos, após pesquisa e análise, discutirem a melhor estratégia para vestir a sua empresa.

Os trajes não podem ser diferentes a cada troca de roupa, a cada semana, a cada mês, a cada ano, mas também não podem ser estáticos, deverão variar de acordo com as tendências e com as novas acepções da empresa; se necessário for, deve-se recorrer a profissionais de moda, na tentativa de acertar na escolha e/ou na mudança do traje, respeitando, naturalmente, no caso dos uniformes, a criação e consolidação da marca.

Referências Bibliográficas:

1. DILTS, R.; SMITH, S. Crenças. São Paulo: Summus, 1993. Disponível em: . Acesso em: 11 out. 2002.
2. HELLER, R. Como se comunicar bem. São Paulo: Publifolha, 2001.
3. KNIGHT, S.. Introdução à neurolinguística. São Paulo: Nobel, 2001.
4. LOVELOCK, C.; WRIGHT, L. Serviços: marketing e gestão. São Paulo: Saraiva, 2002.
4. OLIVEIRA, J.B. Como promover eventos. São Paulo: Masdras, 2000.
5. PINTO, J.B. Comunicação em Marketing. 5.ed. São Paulo: Papirus, 2001.
6. SENAC. DN. Ritos do Corpo. Rio de Janeiro: SENAC Nacional, 2002.
7. TORQUATO, G. Cultura – poder – comunicação e imagem: fundamentos
da nova empresa. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002. (Coleção novos umbrais)

Obs.: Este texto foi escrito e publicado em 2003, na Revista Praxis, Nº 1, p 103-113.



[1] . O autor é Graduado em Letras com habilitação em Língua Portuguesa, Língua Inglesa e Literaturas pela UNEB-BA; bacharel em Direito pela UNESC/RO; especialista em Metodologia e Didática do Ensino Superior e em Língua Portuguesa pela UNESC-RO; especialista em Design Instrucional pelo SENAC/SP. É professor  do Instituto Federal de Rondônia.
[2] . Trata-se de uma nomenclatura para referir-se a funcionário, empregado.
[3] . Neurolinguística é a ciência que estuda as relações entre a estrutura do cérebro humano e a capacidade linguística, com atenção especial a aquisição da linguagem e aos distúrbios da linguagem.


OBA, A TERCEIRA MULHER DE XANGÔ

Obà Siré

Obá era uma mulher cheia de vigor e coragem. Faltava-lhe, talvez, um pouco de charme e refinamento. Mas ela não temia ninguém no mundo. Seu maior prazer era lutar. Seu vigor era tal que ela escolheu a luta e o pugilato como profissão.

Obá venceu todas as disputas que foram organizadas entre ela e diversos orixás. Ela derrubou Obatalá, tirou Oxóssi de combate e deixou no chão Orunmilá. Oxumaré não resistiu à sua força. Ela desafiou Obaluaê e botou Exu pra correr.

Chegou a vez de Ogum! Ogum teve o cuidado de consultar Ifá, antes da luta. Os adivinhos lhe disseram para fazer oferendas, compostas de duzentas espigas de milho e muitos quiabos. Tudo pisado num pilão para se obter uma massa viscosa e escorregadia. Esta substância deveria ser depositada num canto do terreno onde eles lutariam.

Ogum seguiu fielmente estas instruções. Na hora da luta, Obá chegou dizendo: "O dia do encontro é chegado." Ogum confirmou: "Nós lutaremos, então, um contra o outro." A luta começou.

No início, Obá parecia dominar a situação. Ogum recuou em direção ao lugar onde ele derramara a oferenda. Obá pisou na pasta viscosa e escorregou. Ogum aproveitou para derrubá-Ia. Rapidamente, libertou-se do pano que vestia e a possuiu ali mesmo, tomando-se, desta maneira, seu primeiro marido.

Mais tarde, Obá tomou-se a terceira mulher de Xangô, pois ela era forte e corajosa. A primeira mulher de Xangô foi Oiá-Iansã, que era bela e fascinante. A segunda foi Oxum, que era coquete e vaidosa.

Uma rivalidade logo se estabeleceu entre Obá e Oxum. Ambas disputavam a preferência do amor de Xangô. Obá sempre procurava surpreender o segredo das receitas utilizadas por Oxum quando esta preparava as refeições de Xangô.

Oxum irritada, decidiu preparar-lhe uma armadilha. Convidou Obá a vir, um dia de manhã, assistir à preparação de um prato que, segundo ela, agradava infinitamente a Xangô.

Obá chegou na hora combinada e encontrou Oxum com um lenço amarrado à cabeça, escondendo as orelhas. Ela preparava uma sopa para Xangô onde dois cogumelos flutuavam na superfície do caldo. Oxum convenceu Obá que se tratava de suas orelhas, que ela cozinhava, desta forma, para preparar o prato favorito de Xangô. Este logo chegou, vaidoso e altivo. Engoliu, ruidosamente e com deleite, a sopa de cogumelos e galante e apressado, retirou-se com Oxum para o quarto.

Na semana seguinte, foi a vez de Obá cuidar de Xangô. Ela decidiu pôr em prática a receita maravilhosa. Xangô não sentiu nenhum prazer ao ver que Obá se cortara uma das orelhas. Ele achou repugnante o prato que ela lhe preparara.

Neste momento, Oxum chegou e retirou o lenço, mostrando à sua rival que suas orelhas não haviam sido cortadas, nem comidas. Furiosa, Obá precipitou-se sobre Oxum com impetuosidade.

Uma verdadeira luta se seguiu. Enraivecido, Xangô trovejou sua fúria. Oxum e Obá, apavoradas, fugiram e transformaram-se em rios. Até hoje, as águas destes rios são tumultuadas e agitadas no lugar de sua confluência, em lembrança da briga que opôs Oxum e Obá pelo amor de Xangô.

FONTE DO TEXTO: VERGER, Pierre Fatumbi. Lendas africanas dos orixás. 4.ed. Salvador: Corrupio, 1997.
FONTE DA IMAGEM: http://batuquedosorixas.blogspot.com.br/2013/01/qualidades-de-oba-no-candomble.html