quarta-feira, 12 de novembro de 2014

XANGÔ

Kawo Kabiyesi le!

Xangô era filho de Oranian, valoroso guerreiro, cujo corpo era preto à direita e branco à esquerda. Homem valente à direita, homem valente à esquerda. Homem valente em casa, homem valente na guerra.

Oranian foi o fundador do Reino de Oyó, na terra dos iorubas. Durante suas guerras, ele passava sempre por Empé, em território Tapá, também chamado Nupê.

Elempê, o rei do lugar, fez uma aliança com Oranian e deu-lhe, também, sua filha em casamento. Desta união nasceu este filho vigoroso e forte, chamado Xangô.

Durante sua infância em Tapá, Xangô só pensava em encrenca. Encolerizava-se facilmente, era impaciente, adorava dar ordens e não tolerava reclamação. Xangô só gostava de brincadeira de guerra e de briga.

Comandando os pivetes da cidade, ele ia roubar os frutos das árvores. Crescido, seu caráter valente o levou a partir em busca de aventuras gloriosas. Xangô tinha um oxé – machado de duas lâminas; tinha, também, um saco de couro, pendurado no seu ombro esquerdo. Nele encontravam-se os elementos do seu poder ou axé: aquilo que ele engolia para cuspir fogo e amedrontar, assim, seus adversários, e a pedra de raio com as quais ele destruía as casas de seus inimigos.

O primeiro lugar que Xangô visitou chamava-se Kossô. Aí chegando, a pessoas assustadas disseram: "Quem é este perigoso personagem?" "Ele é brutal e petulante demais!" "Não o queremos entre nós!" "Ele vai atormentar-nos!" "Ele vai maltratar-nos!" "Ele vai espalhar a desordem na cidade!" "Não o queremos entre nós!" Mas Xangô os ameaçou com seu oxé. Sua respiração virou fogo e ele destruiu algumas casas com suas pedras de raio.

Todo mundo de Kossô veio pedir-lhe clemência, gritando: Kabiyei Sango, Kawo Kabiyei Sango Obá Kossôf "Vamos todos ver e saudar Xangô, Rei de Kossô!"

Quando Xangô tornou-se rei de Kossô, ele pôs-se à obra. Contrariamente ao que as pessoas desconfiavam e temiam, Xangô fazia as coisas com alma e dignidade. Ele realizava trabalhos úteis à comunidade. Mas esta vida calma não convinha a Xangô.

Ele adorava as viagens e as aventuras. Assim, partiu novamente e chegou à cidade de Irê, onde morava Ogum. Ogum o terrível guerreiro, Ogum o poderoso ferreiro. Ogum estava casado com Iansã, senhora dos ventos e das tempestades. Ela ajudava Ogum em suas atividades.

Toda manhã, Iansã o acompanhava à forja e o ajudava, carregando suas ferramentas. Era ela, ainda, que acionava os sopradores para atiçar o fogo. O vento soprava e fazia: fuku, fuku, fuku. E Ogum batia sobre a bigorna: beng, beng, beng...

Xangô gostava de sentar-se ao lado da forja para ver Ogum trabalhar. Vez por outra, ele olhava para Iansã. Iansã, também, espiava furtivamente Xangô. Xangô era vaidoso e cuidava muito da sua aparência, a ponto de trançar seus cabelos como os de uma mulher. Ele fizera furos nos lobos de suas orelhas, onde pendurava argolas. Usava braceletes e colares de contas vermelhas e brancas. Que elegância!

Muito impressionada pela distinção e pelo brilho de Xangô, Iansã fugiu com ele e tornou-se sua primeira mulher. Xangô voltou por pouco tempo a Kossô, seguindo depois, com seus súditos, para o reino de Oyó, o reino fundado, antigamente, por seu pai Oranian.

O trono estava ocupado por um meio-irmão de Xangô, mais velho que ele, chamado Dadá – Ajaká – um rei pacífico, que amava a beleza e a arte. Xangô instalou-se em Oyó, num novo bairro que chamou de Kossô. E conservou, assim, seu título de Obá Kossô – "Rei de Kossô".

Xangô guerreava para seu irmão Dadá. O reino de Oyó expandia-se para os quatro cantos do mundo. Ele se estendeu para o Norte. Ele se estendeu para o Sul. Ele se estendeu para o Leste e ele se estendeu para o Oeste.

Xangô, então, destronou seu irmão Dadá-Ajaká e fez-se rei em seu lugar. Kabiyesi Sango Alafin Oyó Alayeluwa! "Viva o Rei Xangô, dono do palácio de Oyó e Senhor do Mundo!"

Xangô construiu um palácio de cem colunas de bronze. Ele tinha um exército de cem mil cavaleiros. Vivia entre suas mulheres e seus filhos. lansã, sua primeira mulher, era bonita e ciumenta. Oxum, sua segunda mulher, era coquete e dengosa. Obá, sua terceira mulher, era robusta e trabalhadora.

Sete anos mais tarde, foi o fim do seu reino: Xangô, acompanhado de lansã, subira à colina Igbeti, cuja vista dominava seu palácio de cem colunas de bronze. Ele queria experimentar uma nova fórmula que inventara para lançar raios. Baoummm!!!

A fórmula era tão boa que destruiu todo o seu palácio! Adeus mulheres, crianças, servos, riquezas, cavalos, bois e carneiros. Tudo havia desaparecido fulminado, espalhado e reduzido a cinzas. Xangô, desesperado, seguido apenas de lansã, voltou para Tapá.

Entretanto, chegando a Kossô, seu coração não suportou tanta tristeza. Xangô bateu violentamente com os pés no chão e afundou-se terra adentro. lansã, solidária, fez o mesmo em Irá. Oxum e Obá transformaram-se em rios e todos tornaram-se orixás.

Xangô, orixá do trovão, Kawo Kabiyesi le! lansã, orixá da tempestade, Êpa Heyi Oiá! Oxum, orixá das águas doces, Orê Yeyê ô!

FONTE: VERGER, Pierre Fatumbi. Lendas africanas dos orixás. 4.ed. Salvador: Corrupio, 1997.

FONTE DA IMAGEM: http://candombleatual.blogspot.com.br/2012/03/xango-arquetipo-do-orixa.html

Nenhum comentário:

Postar um comentário